Como competiam os deuses: origem e retomada dos Jogos Olímpicos

Criado por Letícia Castro em em 19/08/2008
“Em nome de todos os competidores, prometo participar destes Jogos Olímpicos, respeitando e obedecendo todas as suas regras, com o verdadeiro espírito da esportividade, pela glória do esporte e pela honra de nossas equipes.” (juramento olímpico)


Altar em homenagem a Zeus, na cidade de Olímpia, na Grécia, sede dos antigos jogos olímpicos (Fonte: Portal G1)

No início, era Cronos o rei dos céus. De sua união com Rhea (1), nasce o pequeno Zeus. A mãe, preocupada, confia a sua segurança aos Dáctilos de Ida (2). Mas eles eram em cinco e apenas um seria incumbido da missão de proteger o herdeiro. Héracles, o mais velho, decide submeter os irmãos a uma prova, em forma de corrida, cujo campeão seria contemplado com uma coroa de ramos de oliveira e a difícil tarefa de proteger o futuro senhor do Olimpo. Nascem então as Olimpíadas.

As Olímpiadas da Era Antiga eram realizadas de quatro em quatro anos na cidade de Olímpia, sul da Grécia, onde havia um templo para Zeus, soberano do Olimpo, monte em que habitavam os deuses da mitologia grega. Começaram como um festival religioso em sua honra, como conta a lenda de Héracles, mas os gregos sempre tiveram práticas esportivas, parte do treinamento para as guerras.

Data de 776 a.C a realização dos primeiros jogos de que se tem notícia e até 728 a.C., as disputas compreendiam apenas duas provas, a corrida de 200m e de 400m. Com o tempo, foram sendo incorporados os demais esportes que completariam o formato dos jogos daquele tempo: o boxe, a corrida de cavalos (em bigas, carroças com duas rodas e quadrigas, com quatro, manejadas por um condutor em pé sobre elas), o pentathlon, com cinco modalidades (luta, salto à distância, corrida, arremesso de dardo e de disco) e o pancrácio: espécie de luta “vale-tudo”, em que o único golpe proibido era danificar os olhos do oponente. O pancrácio era o combate mais esperado pelos espectadores que lotavam os estádios, com capacidade para até 45.000 pessoas, onde eram realizadas todas as provas. Aliás, estádio é uma palavra derivada do grego “stade”, e equivale a 192,27m, assim como o termo ginásio, que significa “lugar onde os homens se exercitam nus”. Nus, pois não era permitido o uso de roupas durante as competições, já que qualquer tentativa de burlar as regras dos jogos era severamente punida e, sem roupas, os atletas não teriam como esconder armas e outros objetos que facilitassem a sua vitória.


Pintura em cerâmica da Grécia antiga (Fonte:
História Net)

Os homens eram os únicos a participar da competição, ou melhor, qualquer homem que fosse adulto, livre e falasse grego, o que excluia as mulheres, as crianças, os escravos e os estrangeiros. A determinação da idade era muito relativa, pois, desde que o participante apresentasse um sinal físico de maturidade, como pêlos nas axilas, no rosto ou na púbis, poderia competir e há registros históricos de um vencedor com apenas 12 anos. Já as mulheres, quando permitidas, participavam somente das corridas de cavalos, pois não podiam nem assistir ao evento.

Em 396 a.C., uma princesa de Esparta, de nome Cynisca, tornou-se a primeira campeã olímpica de todos os tempos, vencendo as provas de biga e quadriga, além de ser ela mesma a criadora de seus cavalos, outra tarefa proibida para as gregas da época. Mas, para não ficar de fora, as “helenas” tinham as suas próprias Olimpíadas. De quatro em quatro anos, era realizado o “Festival de Hera (3)”, onde competiam nas mesmas modalidades, usando túnicas até os joelhos e os cabelos soltos para evitar fraudes. O tamanho das provas era readaptado, por exemplo, as corridas mediam 1/6 a menos do que aquelas realizadas pelos homens.


Linha de largada para a corrida, Olímpia (Fonte:
Portal G1)

Quanto à premiação, o vencedor olímpico era agraciado com uma coroa de ramos de oliveira, o equivalente à medalha de ouro de hoje, além de ganhar dinheiro e outros bens materiais, como recompensa de seu feito. Acendia uma tocha e agradecia aos deuses pelo que tinha acontecido.O prestígio social que se adquiria, no entanto, era o que todo participante cobiçava, visto que, durante as Olimpíadas, cessavam todas as atividades normais do país, inclusive as guerras. Conta-se que até o grande império persa teve que esperar o término dos jogos para continuar as batalhas em território grego, no confronto mais importante entre os dois povos, em 480 a.C.. Nessa guerra, ocorreu a famosa viagem a pé de Feidípedes, um mensageiro grego, que correu da cidade de Marathon até Atenas, para avisar aos gregos de sua vitória naquele local. O percurso de 42km que custou a vida do mensageiro, deu origem a mais uma prova olímpica, a maratona, que passou a ser disputada nos jogos da era moderna, no fim do século 19. Diz a lenda que Feidípedes, ao chegar em Atenas, dirigiu-se aos governantes e disse “Saudações, nós vencemos!”, depois, caiu morto, extenuado pela proeza.

As Olimpíadas antigas duraram até 393 d.C, quando foram finalmente extintas pelo imperador romano Teodósio I, devido à proliferação do Cristianismo e a pouca popularidade que os jogos passaram a ter a partir de então, tendo durado por 1170 anos ininterruptos, ou seja, mais de um milênio, nessa primeira versão.


Barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas da atualidade (Fonte:
blog Tiro Portugal)

Em 1894, um barão francês, Pierre de Coubertin, inspirado pela nobreza das disputas de Olímpia, deu origem ao “Movimento Olímpico” que seria o responsável pela retomada dos jogos na nossa época. Sob o lema “Citius, altius, fortius”, do latim “mais veloz, mais alto e mais forte”, a partir de 1896, mais uma vez na Grécia, as Olimpíadas voltaram a tomar forma e treze países de todo o mundo participaram de sua realização. Na terceira edição, o número já tinha sido triplicado.

A motivação de Coubertin era, antes de mais nada, social. Seu desejo era conseguir que as diferenças entre as nações passassem a ser resolvidas em confrontos esportivos e, dessa maneira, as Olimpíadas substituiriam as guerras. Não aconteceu, mas, a cada quatro anos, um novo Zeus nasce e todos os povos podem, mais uma vez, festejar os seus heróis.

Nota:

1 deusa da fertilidade e mãe de seis dos doze deuses da mitologia
2 seres mitológicos que viviam no monte Ida, em Creta, descobridores do ferro e tidos como os primeiros metalúrgicos da história
3 deusa do matrimônio e dos nascimentos, esposa de Zeus.

Aqui se fala português
Comentários (11)
  1. Wander Veroni comentou, em 19/08/2008:

    Oi, Letícia!

    Por coincidência, a minha irmã estava fazendo um trabalho de escola sobre as Olimpíadas. Estava ajudando ela a procurar dados na net e fotos. Na hora q comecei a ler, lembrei: isso é pauta pra Lê. Dito e feito. E não é que ao entrar no Babel dou de cara com a história das Olimpíadas.

    Coisa de louco, né. Seu texto ficou lindo…eu embarquei na história completamente.

    Bjão,

    =]
    ________________________
    http://cafecomnoticias.blogspot.com

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  2. Andre comentou, em 19/08/2008:

    “Totalmente Excelente”! O texto – muito bem formulado – me fez lembrar da epoca escolar (quando de cada ano olimpico, tinhamos q fazer um trabalho sobre os jogos e sua historia!).
    Parabens!
    Beijos

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  3. Arnaldo Reis Trindade comentou, em 19/08/2008:

    Leticia,
    parabens pelo texto, não vou dizer que não sabia dessa história, mas como sei que muitos não sabe m e que isso pode ser tema em vestibulares, ENEM e concursos esse ano, amei rêver o tema e deixo pra tí um abraço, um beijo e desejo-te também um ótimo dia e que nas olímpiadas o Brasil vença a Argentina e nos traga no mí nimo o ouro tão esperado.

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  4. Kátia Regina de Brito comentou, em 19/08/2008:

    Letícia,

    Acho linda a história da Grécia antiga e como boas histórias até hoje nos proporciona grandes espetáculos.
    Beijinnnn

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  5. Maldita Futebol Clube comentou, em 19/08/2008:

    Mitologia grega ? sempre interessante. areth? o que ? belo ? bom1 Seu blog ? areth? Instrutivo e plugado as atualidades, trazendo um pouco de hist?ria e cultura e sabendo contar a sua est?ria. parab?ns…

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  6. SILVIA comentou, em 19/08/2008:

    Oi minha filha,

    Isso é que é uma aula bem dada. Informações precisassssssssss. SINTO ORGULHO DE VOCÊ. A cada dia que abro seu blog sei que uma surpresa diferente você nos reserva.
    Você merece não só a medalha de OURO, mas todas as medalhas que existire.
    AMO VOCÊ!

    beijos com saudadessssssssssssssss.

    tu mamita

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  7. Luciano comentou, em 19/08/2008:

    Em nome de todos os leitores do Babel, prometo participar destes Posts Olímpicos, respeitando e obedecendo todas as suas regras, com o verdadeiro espírito da esportividade, pela glória do esporte, pela honra de nossas equipes e por todo o conhecimento que nos é fornecido, gratuitamente, neste blog.
    Mais uma medalha de Ouro com a coroa de ramos de oliveira para vc!

    Beijos

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  8. Lucas Fernandes comentou, em 19/08/2008:

    Lê,

    O Barão de Coubertin fez jus ao seu título de nobreza. Foi magnanímo suficiente para recriar os Jogos, levantando a bandeira das paz e do acerto amigável pelas vias esportivas.

    Ótima pesquisa. O site História Net é mesmo top em se tratando de história clássica. Ah! Belíssimo post! Muito bem articulado.

    Beijo. Até mais.
    ___________________________________
    http://semfronteirasnaweb.blogspot.com

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  9. Sábio do Cerrado comentou, em 19/08/2008:

    Ola!
    Parabéns pelo blog.
    Um só reparo: Cronos era tido como deus do tempo.

    Abraços

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  10. ???? comentou, em 20/08/2008:

    Sim, sábio. Sugiro ler com atenção e interpretar o texto. Eu não disse que ele não era o deus do tempo, disse que ele era o rei dos céus. Vc pode confirmar essa informação aqui: http://www.brasilescola.com/mitologia/cronos.htm
    Abraço!

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  11. Anonymous comentou, em 11/09/2012:

    cara eu to pesquisando so poorqu e trabalho ;

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