Um breve conto constitucionalista

Criado por Letícia Castro em em 09/07/2013

Cartaz_Revolucao_ConstitucionalistaNão, este texto não falará de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, jovens paulistas imortalizados pela história do país. Deixemos os heróis, cujas mortes serviram de estopim para o início  da Revolução Constitucionlista, descansando sob a proteção do Obelisco do Ibirapuera. O monumento-mausoléu, especialmente erguido para abrigar os corpos do M.M.D.C, também é a tumba de quase outros 1000 combatentes que se foram durante o levante. Mas não Jerônimo, cuja vida estava prestes a tomar outro rumo.

Jerônimo era mais um simples jovem paulista, nascido em uma pequena cidade do interior do estado. Noivo de Lázara, os dois estavam para se casar, quando a possibilidade de ir parar nas trincheiras começou a bater a sua porta. Era inverno de 32 e, com o estouro da guerra cada vez mais iminente, o jeito foi apressar as providências para a boda. E, assim estavam, no meio da cerimônia, quando chegou a notícia de que a guerra havia sido deflagrada. Só deu tempo de dizer o “sim” e, de farda e tudo, abandonar a bela Miss Guaraci, à própria sorte, sem saber se havia se tornado uma feliz esposa ou jovem viúva. Desertar não era opção.

O tempo passou. São Paulo voltou a ser governado pelos paulistas e o objetivo de promulgar uma nova constituição para o país, mais focada na democracia, segundo o próprio preâmbulo, havia sido alcançado. Lominho também voltou e, junto com sua Lazinha, deram início a uma família que se multiplica até hoje entre bisnetos e tataranetos. Alguns dos quais ela agradecia a Deus por ter chegado a conhecer. A vida foi duríssima, e a guerra, apenas o prenúncio de batalhas ainda mais difíceis que eles iriam travar.

Sempre me pergunto o que teria acontecido se tivesse havido aquela lua de mel. Um tal de “Nego” talvez não tivesse nascido três anos depois e eu não estivesse contando a vocês este ligeiro relato. Mas, uma coisa é certa: minha avó, que seria uma centenária neste 2013, jamais se esqueceu do perfume de flor de laranjeira nos seus cabelos. Nem 60 anos depois, quando me contou esta história. Não conheci o herói da família, mas a minha “paulistice” herdei de meu “vô Lominho”. Talvez por esse sangue tricolor que, diante de um futuro certo e sem muitas surpresas, faz-nos optar pelo risco da morte por este pedaço de chão. Sempre que São Paulo chamar.

Comentários (6)
  1. Geraldo comentou, em 10/07/2013:

    Leticia,

    A revolução de 32 é a nossa de 1835…

    Abusos do Poder Federal..

    Abraço

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  2. Letícia Castro comentou, em 10/07/2013:

    É, verdade, meu amigo. E olha a ironia do destino: dessa vez foi o governo gaúcho que havia lutado pela liberdade no passado, sufocando os outros estados… hehehe Ah, essa história. rs

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    • Geraldo comentou, em 10/07/2013:

      Olá Leticia,

      Foi governo federal, ora governado por um gaúcho, mas com coalização mineira também.. ou seja, um contra todos…

      Abraço

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      • Letícia Castro comentou, em 10/07/2013:

        Foi sim, amigão. Vc tem razão. O exército gaúcho nos encurralou pelo sul e o mineiro pelo norte. Tudo a mando de Getúlio. Foram todos contra nós! hehehe E nós ainda reivindicando uma melhoria para o país todo! rs

      • Geraldo comentou, em 10/07/2013:

        Leticia,

        Tá esquecendo que foi a politica café com leite da República Velha que causou tudo isto. Quando os paulista “azedaram” o leite dos mineiros, não teve jeito.

        E claro que daí, os paulistas, que não estavam preparados para um combate deste porte, acabaram por ser derrotados…

        Abraço

  3. Letícia Castro comentou, em 12/07/2013:

    Ah não, amigão. Agora a gente vai brigar. Não tô esquecendo de nada disso, mas a trairagem dos gaúchos e mineiros pra cima do exército paulista, que era um só, foi desproporcional. Uma covardia. Vcs têm uma dívida histórica enorme conosco!

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