Minha história com Patience e o que a Fontana di Trevi está fazendo ali

Criado por Letícia Castro em em 03/10/2011

Este post é dedicado ao grande Axl Rose, que enfrentou, com humildade, até o último instante, o tremendo mico pago ontem no palco do Rock in Rio.

OK. Ainda na ressaca do horrível (terrível, péssimo!) show do Axl Rose e sua banda cover do Guns N’ Roses no Rock in Rio 2011, sinto-me na obrigação de relembrar tempos melhores. Aqueles, sem pieguice, em que essa banda sacudiu (de verdade!) o mundo e nos colocou a todos em uma never-ending vibe de euforia.

Quem acompanha o Babel, sabe que o meu grupo favorito de metal pesado é o KISS e, precisamente naqueles anos 90, eu curtia mais o Metallica que o Guns. Mas, não tinha como escapar, sabia todas as letras de cor e nutria aquele amor e ódio em iguais proporções pelo Axl. E foi no meio desse inesquecível cenário do rock mundial que pus minha mochila nas costas e viajei para a Europa.

Durante o segundo tour pela Itália rolou o tal do “presente romano” – melhor do que geralmente são os dos gregos – um momento da mais pura conjugação do conceito de “aldeia global” que tive até hoje, o que, no meu caso, não é fácil escolher, pois tenho passado a vida me misturando com o resto do mundo. Como a maioria de nós, hoje em dia. No entanto, naquele julho de 96, com a internet nascendo, as coisas ainda não fluíam como nos modelos atuais.

fontanaditrevi

A exuberante Fontana di Trevi: Roma, Itália

Digressão à parte, voltemos à Itália. Ali, na Fontana di Trevi (onde foi filmada a épica cena de La Dolce Vita, em que Anita Ekberg se banha na fonte e enlouquece os homens do planeta), minha amiga italiana e eu encontramos uma galera enorme, gente de todo o mundo, fazendo exatamente o que nós tínhamos ido lá fazer: conhecer gente do mundo todo.

A Fontana é um desses points típicos de hangout de mochileiros e é comum eles se encontrarem ali nas tardes de verão europeu. Barbara e eu chegamos lá pelas 17h, conhecemos duas garotas americanas e a amizade foi instantânea. Papo vai, papo vem, olhamos ao redor e a praça já estava lotada, coalhada de gente de todas as raças, credos e tamanhos, conversando entre si, usando a linguagem que conseguia.

E foi aí que aconteceu: um carinha (não sei de onde) tocou os primeiros acordes de um hit conhecido, com o seu inconfundível assovio. O burburinho, extremamente animado (estamos na Itália!), cessou e nós todos, em uníssono, mandamos: “Shed a tear ’cause I’m missing you, I’m still all right to smile…”. E, assim, frase por frase, centenas de jovens em uma praça distante de suas casas e de qualquer outra noção de familiaridade, transformaram, por alguns minutos, um monumento à humanidade em palco de rock (o que também deveria ser tombado pela UNESCO, digamos).

Cantamos a música inteira, obviamente, sem errar a letra em inglês, no meio de tantas línguas quantas pessoas havia e a tarde foi escurecendo. Quando a lua chegou, no exato momento do “…ooh, this time…”, os spots de luz começaram a pipocar e, em segundos, a fonte já estava toda acesa, como que materializando fisicamente o que nos iluminava por dentro. Chorei, a maioria chorou, e celebramos ali a beleza da criação humana, quando ela se veste das suas melhores cores. Esta é a razão pela qual eu também fiquei, Axl, até o fim do show de ontem, trocando vergonha alheia por reverência. Thanks, man.

O registro daquela sera incantevole.

Comentários (12)
  1. Fábio C. Martins comentou, em 03/10/2011:

    Que lindo, Lê! Alguns dizem que o esperanto é a língua universal, mas, na minha opinião, não tem “língua” mais universal que a música. Sua carga de sentimentos é tamanha que seria impossível não despertar o mesmo significado. Depois desse post, fiquei com uma vontade de ir pra Itália, uma viagem que perdi devido a algumas reuniões “internacionais”, pena que não foram iguais a tua. Beijinhos, Lê!

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  2. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Alguma coisa me diz que logo, logo, vc fará incríveis reuniões internacionais e eu vou ficar aqui chupando o dedo que não estará lambuzado de dulce de leche! rs

    More, fomos cúmplices dessa tragédia e também compartilhamos o amor pela banda, e isso também nos une em uníssono àquela galera.

    Concordo, a música é a arte do Céu.

    Bacini immensi a te! :D

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  3. Fábio C. Martins comentou, em 03/10/2011:

    Verdade, mas estou com medo de encontrar mais brasileiros do que argentinos. Europa é BEM mais interessante, a variedade de nacionalidades é imensa, aqui já é mais restrito. Bom, vamo que vamo, vai que dou sorte e encontrou uma galera legal pra compartilha alguns dias! :)

    Beijão

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  4. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Com certeza, vc vai encontrar bastante brasileiros, mas os argentinos são interessantes pacas. All you have to do is mingle. ;)

    Beijinho!

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  5. Arnaldo Reis Trindade comentou, em 03/10/2011:

    Será que se eu levar meu violão rola de tocar uma musiquinha do GNR com a galera ou terei de aprender a tocar as músicas do Justin Bieber antes?

    Fantástica a história Lê, realmente me comoveu, principalmente depois de ter “perdido” minha madrugada toda aguardando o Guns, poderia ter dormido depois do fim fantástico do show do SOAD.

    Beijos e a gente se vê por aí, ou por aqui, quem sabe né?

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  6. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Hahahaha Não, acho que ainda rola um Guns… Não percamos a fé! rs

    Pois é, mas o que importa é o nosso companheirismo, meu amigo querido! rs

    Opa! Juro que da próxima vez que for à BA, a gente combina, tá bom?

    Beijoconas!

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  7. Valeria Mello comentou, em 03/10/2011:

    Eu não entendo de Gun e etc, mas adorei o seu caso. Vivenciar estes momentos é delícia pura! è viver de novo! Muito boa sua história! Grande abraço.

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  8. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Kit, minha linda, quando comentei no diHITT, não percebi que era vc. Ando muito desligada, desculpa mesmo.

    Já tinha gostado do seu comentário e agora que sei que veio de você, gost4ei mais ainda! Obrigada, viu? Sempre um prazer tê-la aqui.

    Beijos!

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  9. Geraldo comentou, em 03/10/2011:

    Olá Leticia,

    Ontem acompanhei (via twitter) todos os comentários a respeito do show de 2011, não sou um fã típico do Guns.. gosto das músicas, mas longe de ter um “hino” e eu sempre preferi Pink Floyd com seu mítico Another Brick the Wall.

    Agora tua história é simplesmente fantástica…

    Abraço

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  10. Jaime Guimarães comentou, em 03/10/2011:

    Oi, Letícia.

    Bem, ontem/hoje acompanhamos o “freak show” que Axl Enrolose transformou o Guns n´Roses. Ficamos decepcionados, claro…evidente que não esperávamos um Axl saltitante como em 1991, mas ao menos respeitoso e zelando por aquilo que criou (junto a companheiros que hoje fazem muita falta à banda) e arrebatou milhares de fãs pelo mundo.

    E eu sou um destes fãs que também possui história ou histórias com alguma música do GN´R como trilha sonora, tal como essa sua história fantástica na Fontava de Trevi. Músicas especiais como Patience, Estranged, Rocket Queen – “minha” música especial, daí a revolta ontem no twitter, que vergonha rs.

    Mas não tem jeito: podem desafinar a música, estragarem, errarem notas, o que for: nada apaga as lembranças que estas músicas especiais remetem. E este seu texto maravilhoso é uma prova disso!

    Beijo e obrigado pela companhia ( and patience! rs) ontem/hoje no twitter :)

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  11. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Geraldo, que vergonha! Vc acompanhou todo o nosso “desabafo”. hehehehe Releve muita coisa dali, meu amigo, dita na hora do calor do momento. rs

    Eu é que fico feliz com o teu comentário que me honra muito como sempre, viu?

    Beijão!

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  12. LETÍCIA CASTRO comentou, em 03/10/2011:

    Sim, Jaime! Nossa indignação perpassava pelos poros e alcançava o teclado e com razão! Afinal de contas, amamos esses m***f****, com que direito fazem uma presepada dessas???

    Eu é que agradeço pela cumplicidade e solidariedade guniana! (se é que isso existe rs)

    Beijos e amei o comentário, viu?

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