A crise financeira dos EUA: entenda o que acontece e veja a cronologia dos eventos
O leitor pode nem estar muito bem-informado sobre do que trata a crise financeira norte-americana, mas tem ouvido sobre o assunto diariamente. A Folha de São Paulo lançou nessa semana uma seqüência cronológica que explica detalhadamente o desenrolar dos eventos que culminaram em um dos piores cenários econômicos daquele país. O Babel foi investigar “in loco” e traz notícias fresquinhas do que diz o The Wall Street Journal, a Bíblia finaceira dos EUA. Entenda, fato a fato, como a situação chegou a esse ponto.
Começa 2004: problemas no “subprime”, um sistema de hipotecas arriscado que lida com pagadores de histórico de crédito ruim. A crise deflagrou devido ao começo da inadimplência no setor.
De abril a agosto de 2007, grandes companhias começam a entrar em colapso. A New Century Financial, especializada em empréstimos “subprime”, pede concordata e faz corte geral de funcionários.
Logo depois, em julho, o banco de investimentos Bear Stearns avisa que seus investidores não poderão resgatar o dinheiro de seus fundos de alto risco.
No mês de agosto, o banco de investimentos BNP Paribas dá o mesmo recado e fica claro que os bancos não querem se emprestar dinheiro mutuamente.
O Federal Reserve (Banco Central americano), mais conhecido com Fed, corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos. Bancos centrais estrangeiros intervêm (Japão e Canadá), além do norte-americano.
Chega setembro e a crise atravessa o oceano com a fuga de capital do Reino Unido, devido ao pedido de empréstimo do banco britânico Northern Rock ao banco central de lá. Correntistas retiram mais de US$ 2 bilhões do país.
Em outubro, começam os reflexos no resto do mundo. O banco suíço UBS revela perdas bilionárias. Em seguida, é a vez do Citigroup (Citibank e outros) divulgar déficits de mais de US$ 3 bilhões por causa do “subprime”. Demissão do diretor do Merrill Lynch, por revelar a existência de US$ 7,9 bilhões de dívidas.
No fim do ano, o presidente George W. Bush anuncia um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Fed coordena a ação ao lado de cinco outros bancos.
Em 2008, a crise só acelera. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) reconhecem o problema e afirmam que o rombo no “subprime” pode chegar a US$ 400 bilhões. Nacionalização do banco Northern Rock pelo governo britânico.
No mês de março, o Fed libera mais US$ 200 bilhões para bancos com problemas. O Bear Stearns, quinto maior do país, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões, valor ridiculamente inferior ao que valia 12 meses antes.
Um mês depois, aumenta a estimativa do valor das perdas. O FMI (Fundo Monetário Internacional) alerta que podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca, somando-se a crise internacional. A crise se espalha para outros setores – o de crédito ao consumidor e de dívidas de empresas.
No dia 21 de abril, o banco central inglês divulga plano de cerca de 50 bilhões de libras (por volta de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos a trocar dívidas hipotecárias por títulos do governo, mais seguros.
Mais empresas imobiliárias recebem ajuda do governo dos EUA, desta vez, a Fannie Mae e a Freddie Mac.
Em junho, o banco britânico Royal Bank of Scotland faz o maior lançamento de ações da história corporativa do Reino Unido: 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões).
O UBS também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões – é o banco mais afetado pela situação crítica.
Em 19 de junho, acontece a prisão de 406 pessoas pelo FBI, incluindo corretores e empreiteiros, envolvidas em supostas fraudes em financiamentos habitacionais no valor US$ 1 bilhão.
Dias depois, outro banco britânico, o Barclays, anuncia os planos para levantar mais de 4 bilhões de libras (cerca de R$ 15 bilhões) com ações.
Entra o mês de julho. O banco hipotecário americano IndyMac vai à bancarrota, é o segundo maior banco a falir na história do país.
As empresas Fannie Mae e Freddie Mac recebem mais auxílio financeiro proveniente das autoridades governamentais. As duas companhias detêm quase a metade das hipotecas dos EUA e são cruciais para o mercado imobiliário americano.
A partir de agosto, o HSBC alerta para as difíceis condições dos mercados financeiros e divulga queda de 28% em seus lucros semestrais.
O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, reconhece a crise no Reino Unido como a pior dos últimos 60 anos, em uma entrevista ao jornal “The Guardian”. E os dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.
Sobe a taxa de desemprego nos EUA para 6,1%, agravando a crise.
O governo dos Estados Unidos anuncia o controle da Freddie Mac e da Fannie Mae, já que o patamar de dívida das duas empresas configurava um “risco sistêmico” para a estabilidade econômica.
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de bilhões no trimestre anterior a agosto. A Comissão Européia afirma que Reino Unido, Alemanha e Espanha poderão ter recessão até o final de 2008. O banco entra em concordata, por não achar comprador. É o primeiro grande banco em colapso desde o início da crise. No mesmo dia, o Merrill Lynch é comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões, tentando assim, evitar prejuízos maiores.
A seguradora AIG, a maior do país, recebe um pacote emergencial do Fed de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência, com a condição de ceder quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios ao governo.
No fim de setembro, o Washington Mutual, outro gigante hipotecário, é fechado por agências reguladoras e vendido para o adversário, o Citigroup. Piora a crise nos bancos europeus com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo investem 11,2 bilhões de euros na operação.
Legisladores americanos anunciam um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise. O pacote é rejeitado pela Câmara dos Representantes (deputados) do país. As negociações são retomadas.
O Wachovia (quarto banco no ranking) também é comprado pelo Citigroup que concorda em assumir até US$ 42 bilhões de seus prejuízos.
O banco de hipotecas Bradford & Bingley é nacionalizado pelo governo britânico que passa a controlar financiamentos e empréstimos no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões). As operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.
O governo da Islândia assume o controle de 75% do terceiro maior banco do país, o Glitnir, após problemas com fundos de curto-prazo.
A crise se reflete na população de maneira preocupante. O americano médio está deixando de tirar férias, comprar supérfluos e bens necessários, como roupas, e reduz até o consumo de eletrodomésticos, como relata Doug Hayman, 49, um professor de Nova York, segundo o WSJ: “Estamos em modo de emergência. Eu estou preocupado. O governo é inapto.” As ações também têm tirado o sono de muitos idosos: “Eu dependo disso, é a maior parte da minha renda”, afirma Tony Hausner, 65, um paramédico aposentado da capital do país, que investiu pesado no mercado. E ainda reitera: “Eu não tenho em quem me amparar”. Se o famoso pacote emergencial não sair, tudo indica que o Mr. Hausner não será o único.
Aqui se fala português
Comentários (15)
Olha, eu li, mas infelizmente, foi em busca de algo que eu não sabia e que pudesse aliviar o meu estresse. Nada achado.
Já estudo e invisto em mercado financeiro há uns 4 anos e nunca havia visto nada igual. Tive o meu tempo de resgate de minha carteira de ações em maio, mas perdi o passo e agora.. bem, agora… sacar agora é estar pronto parqa amargar todo o prejuízo. Agora já f#$%deu tudo.
Mas é aquele coisa: muita calma nessa hora.
O pacote vai ser aprovado e a situação se normaliza em uns 2 anos…
Imagine, se eu tenho a minha merrequinha para perder, imagine os congressistas americanos…
Abraços
Comadre,
Tem presentinho pra ti lá no Dos Crimes.
Depois de terminar aquele texto, eu passo aqui com calma.
beijocas!!!
Oi,
Parabéns por abordar esse tópico no Babel! Nada como ser leitor de um blog antenado, assim fico por dentro do que acontece aqui e lá fora.
A matéria mostra que os vizinhos do Norte, os até então supra-sumos do mercado financeiro, estão provando do veneno que impuseram aos demais “parceiros” mundiais.
Agora é a hora de ver quem tem mais garrafa vazia para vender!
A confiança que fazia os americanos esnobarem os demais se rompeu! Eles, agora, estão entendendo o ditado “quem tem … tem medo!”
beijos
Lê, excelente cronologia.
eu tenho lido tudo que consigo no meu parco tempo sobre a crise, afinal alguns alarmistas já dizem que ela é tão grande quando o crash de 1929. Eu discordo, mas que a crise é grande é. Talvez a grande semelhança é que como em 1929 o mercado americano não é o único centro nervoso da economia mundial.
Talvez a crise seja o grande prelúdio de uma transferência de hegemonia econômica mundial.
Tua cobertura foi perfeita, traz todos os passos e de uma forma que é possível entender por que o mercado imobiliário americano causou a crise, qual o tamanho da irresponsabilidade e como é inepto o governo Bush.
Eu só me pergunto algumas coisas como por exemplo qual será a margem de lucro do Citigroup para que ele tenha capacidade absorver duas instituições em vias de bancarrota?! Deve ser imensa, o que só me faz lembrar da minha ojeriza a banqueiros.
enfim, tomara que nós (reles mortais) consigamos passar por esta crise do que passamos pelas anteriores!
q site ruim
Nossa ! :O
seu blog é muito massa !
se puder passa lá no meu depois bleeza!?
ahh, quando atualizar me avisa ., ok??’
Julianaa,
Hahaha isso merece até um post, o que vcs acham? (o comentário do calanguinho acima rs)
Garota!
Sem saber você salvou a minha vida!
Meu professor de História pediu para eu comparar o Crack da Bolsa de NY com as de hoje!
Agora ficou bem mais fácil!
VocÊ a folha ajudando os mais necessitados!
Olá Letícia!
Primeiramente agradecer a sua passagem em meu blog, grata por suas palavras.
Admiro MUITO o trabalho jornalístico, e o seu nesse blog é de uma grandeza extraordinária. Como eu falei em meu post, existe muita coisa na blogsfera, muito lixo inclusive, por isso é tão bom quando encontramos algo como aqui, de nível elevado e inteligente.
Quanto ao post sobre a crise americana, excelente resgate histórico.
Posso estar falando bobabem, mas um dia essa potência tinha que cair. É uma lástima que com ela afete tantos outros países, assim como o Brasil que já sofre alguns reflexos.
Beijos Srta.
Ola Letícia
Adorei a sua matéria,muito elucidativa,venho acompanhando o assunto já a algum tempo,e não foi nenhuma surpresa, realmente foi uma sequência de fatalidade até chegar ao atual estágio. Só estou curioso em saber como fica o nosso Unibanco que é parceiro da AIG.
A grande vantagem do Brasil neste momento é diversificação das relações externas (mérito do Lula). Não dependemos tanto dos EUA em relação às exportações, por exemplo. Mas dependemos ainda, sobretudo nas commoditties.
E justamente aí que mora o nosso perigo. Como a nossa bolsa é baseada em matérias primas para a produção, como petróleo, aço, grãos, estamos mais vulneráveis a grandes volatilidades.
O importante é ficarmos atentos e sermos céticos.
oi leticia! Brigada pelo comentario!
Nossa…vc ja foi na mansão da pizza? É bom demais neh!
E olha que legal…vc mora ali perto da vergueiro…e eu estudo na escola municipal de musica, em frente ao centro cultural!
Muito bom seu blog! Informações necessárias e inteligentes!
volte sempre!
O tema foi muito bem abordado, ótimo para quem ainda estava desatualizado com o que vinha acontecendo..
Parabééns e obrigado pelas informações.
Oi, Letícia!
Essa crise afeta não só os EUA, mas o mundo, pois a moeda mundial é o dólar e milhares de negócios ão feitos em cima dela. Pra vc ter uma idéia, uma coisa simples do Brasil, que merece até uma matéria: trabalho na comunicação de um centro comercial especializado em compra de importados. Tanto lojistas, qto clientes estão surpresos de como os preços aumentaram. Infelizmente, as ações de lá refletem aqui.
A sua reportagem é um show de economia e de dados para quem quer se interar pelo assunto.
Bjão,
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http://cafecomnoticias.blogspot.com
O brasileiro médio já convive com o modo emergência há muito tempo, né mesmo?. A maior preocupação é que o que acontecer aos EUA vai refletir no mundo todo, mais pobreza pra quem já passa dificuldades.
A cronologia foi muito esclarecedora.
Abraços,
Berenice