A crise financeira dos EUA: entenda o que acontece e veja a cronologia dos eventos

Criado por Letícia Castro em em 01/10/2008
O leitor pode nem estar muito bem-informado sobre do que trata a crise financeira norte-americana, mas tem ouvido sobre o assunto diariamente. A Folha de São Paulo lançou nessa semana uma seqüência cronológica que explica detalhadamente o desenrolar dos eventos que culminaram em um dos piores cenários econômicos daquele país. O Babel foi investigar “in loco” e traz notícias fresquinhas do que diz o The Wall Street Journal, a Bíblia finaceira dos EUA. Entenda, fato a fato, como a situação chegou a esse ponto.
Começa 2004: problemas no “subprime”, um sistema de hipotecas arriscado que lida com pagadores de histórico de crédito ruim. A crise deflagrou devido ao começo da inadimplência no setor.
De abril a agosto de 2007, grandes companhias começam a entrar em colapso. A New Century Financial, especializada em empréstimos “subprime”, pede concordata e faz corte geral de funcionários.
Logo depois, em julho, o banco de investimentos Bear Stearns avisa que seus investidores não poderão resgatar o dinheiro de seus fundos de alto risco.
No mês de agosto, o banco de investimentos BNP Paribas dá o mesmo recado e fica claro que os bancos não querem se emprestar dinheiro mutuamente.
O Federal Reserve (Banco Central americano), mais conhecido com Fed, corta pela metade a taxa de juros para empréstimos a bancos. Bancos centrais estrangeiros intervêm (Japão e Canadá), além do norte-americano.
Chega setembro e a crise atravessa o oceano com a fuga de capital do Reino Unido, devido ao pedido de empréstimo do banco britânico Northern Rock ao banco central de lá. Correntistas retiram mais de US$ 2 bilhões do país.
Em outubro, começam os reflexos no resto do mundo. O banco suíço UBS revela perdas bilionárias. Em seguida, é a vez do Citigroup (Citibank e outros) divulgar déficits de mais de US$ 3 bilhões por causa do “subprime”. Demissão do diretor do Merrill Lynch, por revelar a existência de US$ 7,9 bilhões de dívidas.
No fim do ano, o presidente George W. Bush anuncia um plano para ajudar milhões de mutuários com problemas. O Fed coordena a ação ao lado de cinco outros bancos.
Em 2008, a crise só acelera. Os líderes do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo) reconhecem o problema e afirmam que o rombo no “subprime” pode chegar a US$ 400 bilhões. Nacionalização do banco Northern Rock pelo governo britânico.
No mês de março, o Fed libera mais US$ 200 bilhões para bancos com problemas. O Bear Stearns, quinto maior do país, é comprado pelo JP Morgan Chase por US$ 240 milhões, valor ridiculamente inferior ao que valia 12 meses antes.
Um mês depois, aumenta a estimativa do valor das perdas. O FMI (Fundo Monetário Internacional) alerta que podem chegar a US$ 1 trilhão ou até ultrapassar esta marca, somando-se a crise internacional. A crise se espalha para outros setores – o de crédito ao consumidor e de dívidas de empresas.
No dia 21 de abril, o banco central inglês divulga plano de cerca de 50 bilhões de libras (por volta de R$ 171 bilhões) para ajudar bancos a trocar dívidas hipotecárias por títulos do governo, mais seguros.
Mais empresas imobiliárias recebem ajuda do governo dos EUA, desta vez, a Fannie Mae e a Freddie Mac.
Em junho, o banco britânico Royal Bank of Scotland faz o maior lançamento de ações da história corporativa do Reino Unido: 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões).
O UBS também lança ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões – é o banco mais afetado pela situação crítica.
Em 19 de junho, acontece a prisão de 406 pessoas pelo FBI, incluindo corretores e empreiteiros, envolvidas em supostas fraudes em financiamentos habitacionais no valor US$ 1 bilhão.
Dias depois, outro banco britânico, o Barclays, anuncia os planos para levantar mais de 4 bilhões de libras (cerca de R$ 15 bilhões) com ações.
Entra o mês de julho. O banco hipotecário americano IndyMac vai à bancarrota, é o segundo maior banco a falir na história do país.
As empresas Fannie Mae e Freddie Mac recebem mais auxílio financeiro proveniente das autoridades governamentais. As duas companhias detêm quase a metade das hipotecas dos EUA e são cruciais para o mercado imobiliário americano.

A partir de agosto, o HSBC alerta para as difíceis condições dos mercados financeiros e divulga queda de 28% em seus lucros semestrais.

O ministro da Fazenda britânico, Alistair Darling, reconhece a crise no Reino Unido como a pior dos últimos 60 anos, em uma entrevista ao jornal “The Guardian”. E os dados oficiais do Banco da Inglaterra mostram queda na aprovação de hipotecas em julho.
Sobe a taxa de desemprego nos EUA para 6,1%, agravando a crise.
O governo dos Estados Unidos anuncia o controle da Freddie Mac e da Fannie Mae, já que o patamar de dívida das duas empresas configurava um “risco sistêmico” para a estabilidade econômica.
O Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, registra perdas de bilhões no trimestre anterior a agosto. A Comissão Européia afirma que Reino Unido, Alemanha e Espanha poderão ter recessão até o final de 2008. O banco entra em concordata, por não achar comprador. É o primeiro grande banco em colapso desde o início da crise. No mesmo dia, o Merrill Lynch é comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões, tentando assim, evitar prejuízos maiores.
A seguradora AIG, a maior do país, recebe um pacote emergencial do Fed de US$ 85 bilhões para tentar evitar a falência, com a condição de ceder quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios ao governo.
No fim de setembro, o Washington Mutual, outro gigante hipotecário, é fechado por agências reguladoras e vendido para o adversário, o Citigroup. Piora a crise nos bancos europeus com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo investem 11,2 bilhões de euros na operação.
Legisladores americanos anunciam um acordo bipartidário para aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para salvar instituições financeiras afetadas pela crise. O pacote é rejeitado pela Câmara dos Representantes (deputados) do país. As negociações são retomadas.
O Wachovia (quarto banco no ranking) também é comprado pelo Citigroup que concorda em assumir até US$ 42 bilhões de seus prejuízos.
O banco de hipotecas Bradford & Bingley é nacionalizado pelo governo britânico que passa a controlar financiamentos e empréstimos no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões). As operações de poupança e agências são vendidas para o Santander, da Espanha.
O governo da Islândia assume o controle de 75% do terceiro maior banco do país, o Glitnir, após problemas com fundos de curto-prazo.

 

A crise se reflete na população de maneira preocupante. O americano médio está deixando de tirar férias, comprar supérfluos e bens necessários, como roupas, e reduz até o consumo de eletrodomésticos, como relata Doug Hayman, 49, um professor de Nova York, segundo o WSJ: “Estamos em modo de emergência. Eu estou preocupado. O governo é inapto.” As ações também têm tirado o sono de muitos idosos: “Eu dependo disso, é a maior parte da minha renda”, afirma Tony Hausner, 65, um paramédico aposentado da capital do país, que investiu pesado no mercado. E ainda reitera: “Eu não tenho em quem me amparar”. Se o famoso pacote emergencial não sair, tudo indica que o Mr. Hausner não será o único.
Aqui se fala português
Comentários (15)
  1. Marcelo comentou, em 01/10/2008:

    Olha, eu li, mas infelizmente, foi em busca de algo que eu não sabia e que pudesse aliviar o meu estresse. Nada achado.
    Já estudo e invisto em mercado financeiro há uns 4 anos e nunca havia visto nada igual. Tive o meu tempo de resgate de minha carteira de ações em maio, mas perdi o passo e agora.. bem, agora… sacar agora é estar pronto parqa amargar todo o prejuízo. Agora já f#$%deu tudo.
    Mas é aquele coisa: muita calma nessa hora.
    O pacote vai ser aprovado e a situação se normaliza em uns 2 anos…

    Imagine, se eu tenho a minha merrequinha para perder, imagine os congressistas americanos…

    Abraços

    Responder
  2. carla m. comentou, em 01/10/2008:

    Comadre,

    Tem presentinho pra ti lá no Dos Crimes.

    Depois de terminar aquele texto, eu passo aqui com calma.

    beijocas!!!

    Responder
  3. Luciano comentou, em 01/10/2008:

    Oi,
    Parabéns por abordar esse tópico no Babel! Nada como ser leitor de um blog antenado, assim fico por dentro do que acontece aqui e lá fora.
    A matéria mostra que os vizinhos do Norte, os até então supra-sumos do mercado financeiro, estão provando do veneno que impuseram aos demais “parceiros” mundiais.
    Agora é a hora de ver quem tem mais garrafa vazia para vender!
    A confiança que fazia os americanos esnobarem os demais se rompeu! Eles, agora, estão entendendo o ditado “quem tem … tem medo!”
    beijos

    Responder
  4. carla m. comentou, em 01/10/2008:

    Lê, excelente cronologia.
    eu tenho lido tudo que consigo no meu parco tempo sobre a crise, afinal alguns alarmistas já dizem que ela é tão grande quando o crash de 1929. Eu discordo, mas que a crise é grande é. Talvez a grande semelhança é que como em 1929 o mercado americano não é o único centro nervoso da economia mundial.
    Talvez a crise seja o grande prelúdio de uma transferência de hegemonia econômica mundial.

    Tua cobertura foi perfeita, traz todos os passos e de uma forma que é possível entender por que o mercado imobiliário americano causou a crise, qual o tamanho da irresponsabilidade e como é inepto o governo Bush.

    Eu só me pergunto algumas coisas como por exemplo qual será a margem de lucro do Citigroup para que ele tenha capacidade absorver duas instituições em vias de bancarrota?! Deve ser imensa, o que só me faz lembrar da minha ojeriza a banqueiros.

    enfim, tomara que nós (reles mortais) consigamos passar por esta crise do que passamos pelas anteriores!

    Responder
  5. calango azedo comentou, em 01/10/2008:

    q site ruim

    Responder
  6. Julianaa, comentou, em 01/10/2008:

    Nossa ! :O
    seu blog é muito massa !
    se puder passa lá no meu depois bleeza!?
    ahh, quando atualizar me avisa ., ok??’

    :)

    Julianaa,

    Responder
  7. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/10/2008:

    Hahaha isso merece até um post, o que vcs acham? (o comentário do calanguinho acima rs)

    Responder
  8. greatdj comentou, em 01/10/2008:

    Garota!
    Sem saber você salvou a minha vida!
    Meu professor de História pediu para eu comparar o Crack da Bolsa de NY com as de hoje!
    Agora ficou bem mais fácil!
    VocÊ a folha ajudando os mais necessitados!

    Responder
  9. PequenAprendiz comentou, em 01/10/2008:

    Olá Letícia!
    Primeiramente agradecer a sua passagem em meu blog, grata por suas palavras.
    Admiro MUITO o trabalho jornalístico, e o seu nesse blog é de uma grandeza extraordinária. Como eu falei em meu post, existe muita coisa na blogsfera, muito lixo inclusive, por isso é tão bom quando encontramos algo como aqui, de nível elevado e inteligente.
    Quanto ao post sobre a crise americana, excelente resgate histórico.
    Posso estar falando bobabem, mas um dia essa potência tinha que cair. É uma lástima que com ela afete tantos outros países, assim como o Brasil que já sofre alguns reflexos.
    Beijos Srta.

    Responder
  10. Edegard comentou, em 01/10/2008:

    Ola Letícia
    Adorei a sua matéria,muito elucidativa,venho acompanhando o assunto já a algum tempo,e não foi nenhuma surpresa, realmente foi uma sequência de fatalidade até chegar ao atual estágio. Só estou curioso em saber como fica o nosso Unibanco que é parceiro da AIG.

    Responder
  11. Michell Niero comentou, em 02/10/2008:

    A grande vantagem do Brasil neste momento é diversificação das relações externas (mérito do Lula). Não dependemos tanto dos EUA em relação às exportações, por exemplo. Mas dependemos ainda, sobretudo nas commoditties.

    E justamente aí que mora o nosso perigo. Como a nossa bolsa é baseada em matérias primas para a produção, como petróleo, aço, grãos, estamos mais vulneráveis a grandes volatilidades.

    O importante é ficarmos atentos e sermos céticos.

    Responder
  12. Ana Célia comentou, em 02/10/2008:

    oi leticia! Brigada pelo comentario!
    Nossa…vc ja foi na mansão da pizza? É bom demais neh!
    E olha que legal…vc mora ali perto da vergueiro…e eu estudo na escola municipal de musica, em frente ao centro cultural!
    Muito bom seu blog! Informações necessárias e inteligentes! ;)

    volte sempre!

    Responder
  13. mealimentodeboasideias comentou, em 03/10/2008:

    O tema foi muito bem abordado, ótimo para quem ainda estava desatualizado com o que vinha acontecendo..
    Parabééns e obrigado pelas informações.

    Responder
  14. Wander Veroni comentou, em 03/10/2008:

    Oi, Letícia!

    Essa crise afeta não só os EUA, mas o mundo, pois a moeda mundial é o dólar e milhares de negócios ão feitos em cima dela. Pra vc ter uma idéia, uma coisa simples do Brasil, que merece até uma matéria: trabalho na comunicação de um centro comercial especializado em compra de importados. Tanto lojistas, qto clientes estão surpresos de como os preços aumentaram. Infelizmente, as ações de lá refletem aqui.

    A sua reportagem é um show de economia e de dados para quem quer se interar pelo assunto.

    Bjão,

    ————————
    http://cafecomnoticias.blogspot.com

    Responder
  15. berenice comentou, em 04/10/2008:

    O brasileiro médio já convive com o modo emergência há muito tempo, né mesmo?. A maior preocupação é que o que acontecer aos EUA vai refletir no mundo todo, mais pobreza pra quem já passa dificuldades.

    A cronologia foi muito esclarecedora.

    Abraços,
    Berenice

    Responder

Deixe uma resposta para LETÍCIA CASTRO Cancelar resposta