Onde a cara-de-pau pode nos levar? Ao universo particular de Eduardo Ferrari em "Só em Beagá"

Criado por Letícia Castro em em 11/07/2011
A bela Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, um dos cenários retratados pelo autor


Cara dura. A minha (ué, mas não é disso que é feito o jornalista?). De abordar o jornalista mineiro Eduardo Ferrari em seu Twitter e pedir um exemplar de seu livro “Só em Beagá – Crônicas e Reportagens sob o olhar de uma cidade”, depois de saber da existência do mesmo, nas informações de seu gravatar.

 
Fã da capital mineira (e vocês que acompanham o BABEL.com já o sabem há tempos), qual não foi a minha mais grata surpresa ao descobrir em Eduardo uma figura extremamente generosa, e, em seu livro, uma visão muito particular de uma Belo Horizonte que conheci e de outra, totalmente relevadora para mim? Eduardo é tão bacana que, em vez de sugerir a compra do livro, ainda enviou mais três exemplares para os meus amigos Wander Veroni, Elisandra Amâncio e Flávya Pereira que “ficaram doidos com” a obra, quando lhes mostrei meu precioso presente.
 
 
 
“Só em Beagá” é um livro de mais de cem crônicas, que foram publicadas durante dois anos no blog homônimo. “Era um blog que virou livro”, conta Eduardo e emenda que, nele, mostra uma visão bem particular e crítica da capital mineira, ao contrário do que se poderia esperar. Eu diria que mais que crítico, “Só em Beagá” é, por muitas vezes, denunciativo.
 
 
De olhos bem abertos
 
Reli, nas páginas do livro, o que já tinha ouvido da boca de outros amigos jornalistas, ao redor de uma mesa de um bar no Maleta (na verdade, na “Cantina do Lucas”), no centro da cidade. Descobri (pasmem!), naquele mesmo dezembro de 2008, exatamente um dia após o lançamento do livro (do qual eu não sabia à época – estava em BH para dar uma palestra sobre redes sociais), que a imprensa mineira tinha “cabresto”. E tardiamente, pelo que parece. Fiquei surpresa ao me dar conta de que o fato já era de conhecimento da imprensa nacional. Mas, como assim? Logo os inconfidentes? Não me restou opção a não ser fazer uma denúncia ao meu próprio estilo. Ferrari reitera, ipsis litteris, o que tanto me espantou naquela noite.
 
 
 
“Perdidos no espaço”: em alusão ao seriado que contava as aventuras da família Robinson no espaço
 
Os problemas urbanos também estão contemplados em “Só em Beagá”. No capítulo “A Cidade da Razão”, o jornalista aponta o dedo, de forma bastante direta, para as questões difíceis que a cidade enfrenta, sejam as intermitentes, como as tragédias que as enchentes provocam quando assolam a capital, até as construções que acabaram se perdendo por mau planejamento, como a torre do Shopping Alta Vila (onde está o segundo Hard Rock Café do Brasil), um “símbolo do fracasso”, na opinião do autor. E segue a flecha em direção à questão dos vários rios que foram sufocados debaixo da cidade e transformados em tubos de esgotos e também aos lugares tradicionais que deram lugar a empreendimentos menos charmosos, em nome do progresso.
 
 
“Tricks or treats”*

Mas, muito além do gosto amargo (e necessário) de todas estas crônicas, está também uma Belo Horizonte lúdica, que pertence ao passado e memórias que Ferrari traz desde menino. Este lado (obviamente, desconhecido para mim) nos faz viajar por uma cidade que quase não existe mais e um cotidiano que só quem tem raízes ali pode descrever. Conheci uma outra BH e me apeguei um pouquinho mais ao município tido como primeira urbe planejada do Brasil. Porque não se pode esquecer que BH tem apenas 114 anos de vida. Foi construída com o propósito de substituir Ouro Preto em sua função de capital do estado e de trazer os ares da modernidade da recém-inaugurada República para as montanhas das Geraes.

 
 
Punch quintanesco”
 
Não sei se de propósito, por inspiração ou obra dos deuses da poesia, mas a crônica que encerra “Só em Beagá” tem o que eu costumo chamar de “punch quintanesco”. É aquela surpresa (que vem como um soco na boca do estômago) que você tem ao chegar ao desfecho de alguns poemas de Mário Quintana (pertencente ao meu top 4 dos maiores no gênero), o “Poeminha do Contra“, por exemplo.
 
Eduardo narra sua amizade com um “personagem” de uma pequena cidade do interior de Minas, que bem poderia ser o José ou aquele pai do vestido vermelho… Eu prefiro pensar que o autor resolveu dedicar a sua canção amiga a esta pessoa querida que fez toda diferença naquele contexto. E, como eu não vou ter a ousadia de revelar nem mais uma palavra (no spoilers neste post), peço ao leitor que permita que Ferrari o conduza através de BH a partir da página 1, tendo a certeza de que a última linha vai fazer você querer também percorrer a encantada capital mineira e criar, ali, as suas próprias memórias.
 
 
*Alusão à expressão em inglês, utilizada no Halloween, onde as crianças, por todos os Estados Unidos, saem às ruas, vestidos de monstros e bruxas, para pedir doces (treats) ou – caso não os recebam – penalizar os vizinhos com suas travessuras (tricks). É também o nome do capítulo em que o autor conta suas reminicências de infância.
 
 
Mais sobre o autor: Eduardo Ferrari é escritor, formado em jornalismo pela PUC-MG e com MBA em Marketing pela UFMG. É autor dos livros “Só em Beagá – Crônicas e Reportagens sob o olhar de uma cidade” (http://soembeaga.blog.com) e “Interlocutores – Desafios e Oportunidades na Relação com a Imprensa” (http://interlocutores.wordpress.com). Se quiser adquirir o livro, aqui está a relação de livrarias onde pode encontrá-lo.
 
 
 


Quer ficar por dentro de tudo o que rola aqui no Babel? Siga-me no Twitter!

Se quiser, também pode me adicionar no no Facebook.

Ah, a sua praia é o vídeo? Então, inscreva-se no nosso canal no YouTube e veja tudo o que o Babel está rodando por lá. Estou te esperando!

 

Aqui se fala português.
Comentários (10)
  1. Eduardo Ferrari comentou, em 11/07/2011:

    Palavras poderosoas e generosas da jornalista Letícia Castro sobre o livro “Só em Beagá”. Muito me honram. Forte abraço.

    Responder
  2. LETÍCIA CASTRO comentou, em 11/07/2011:

    A honra é minha, Edu! E deleite de ter lido esse livro tão verdadeiro e pessoal. Está aqui do meu lado.

    Abraços e obrigada pela oportunidade!

    Responder
  3. Claudia Bittencourt Caldas comentou, em 11/07/2011:

    Respondendo Lê: a altos vôos!…adorei o TODOS os posts do seu Blog, sem exceção…você é absolutamente transparente, uma joia rara …fico muito feliz com a sua amizade menina! Bjs

    Responder
  4. LETÍCIA CASTRO comentou, em 11/07/2011:

    Ô meu Deus, que coisa boa! Tô tremendo aqui, Clau. A sua amizade é que muito me honra, viu? Beijos, linda!

    Responder
  5. Flávya Pereira comentou, em 12/07/2011:

    Com mais vontade de ler eu fico. De cara, já concordo com Eduardo. Há quase seis anos era inaugurado o Shopping Alta Vila com a torre que se vê lá de Confins ou de qualquer lugar da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas…para quê? Está lá desperdiçado e em funcionamento mesmo só o bom Hard Rock Café!
    Adorei o post e quero meu livro logo!

    Responder
  6. Wander Veroni comentou, em 12/07/2011:

    Oi Lê!

    Que delícia essa sua resenha sobre o livro, cumade. Instiga, provoca, traz reflexão e enaltece BH. Tô aqui batendo palmas…que vídeo gostoso que vc colocou para ilustrar as brincadeiras de criança, hein! 0//

    Mas antes de continuar o meu comentário, coloco a ressalva de que ainda não te apresentei a minha versão de Belo Horizonte. Sim, te mostrei algumas coisas, mas ainda estou te devendo um city tour cultural, gastronômico e contemplativo (mais amplo) pela capital mineira que eu gostaria muito, mas muito, de dividir com você, em breve. Quando vc voltar a BH, está intimada a passear conosco (Flávia, Elis, e cia bela…rs). O trem vai ser muito bom, prepare-se…hehehe :)

    Bom, voltando ao post….conheci o livro do Eduardo por sua causa, quando fui passar as férias em SP, e confesso que “Só em Beagá” é um livro obrigatório para quem mora na capital mineira, pois tem muitas histórias que foram perdidas ou esquecidas através dos tempos.

    “Só em BH” é um livro com crônicas-reportagens intenso. A narrativa do Eduardo prende e nos apresenta uma BH tão particular que eu começo a me questionar como nós (população) aceitamos tantas coisas? Claro, é impossível mudar o mundo sozinho…mas acredito que o Eduardo plantou uma semente para que isso frutifique.

    Por falar em cultura, no post de hj do Café com Notícias, te citei. Falei do “Meia Noite em Paris”…quando puder passa lá (momento merchan…rs)!

    Cumade querida, mais uma vez, parabéns pelo texto. Adorei!!!

    Beijos :)

    Responder
  7. LETÍCIA CASTRO comentou, em 12/07/2011:

    Flavinha querida, NUNCA ME LEVARAM AO HRC DE BH! #prontofaleidenovo #denuncia. Enfim, não perderei as esperanças. rs

    Calma, calma. Logo, vc tb vai estar sorvendo cada linha de “Só em Beagá”. O do compadre já chegou. ;)

    Eu é que adorei o seu comment, sua linda!

    Bjs!

    Responder
  8. LETÍCIA CASTRO comentou, em 12/07/2011:

    É, compadre, vamos ver se sai esse passeio mesmo, hein? Só promessas, por enquanto. ahuahuahuahua

    Vc já sabe: eu quero ir ao HRC, na rua que desce quando sobe e sobe quando desce (a.k.a Rua do Amendoim), na Praça do Papa, na Cid. Adminis., na Pampulha e em todos os lugares onde vc quer me levar. Nem faço questão do Porcão. rs

    Queridones, se Deus quiser, logo, logo, teremos oportunidade, tá bom? “Adooooro!” rs

    Beijones e leia o livro inteirinho!

    Responder
  9. blogtatudodominado comentou, em 12/07/2011:

    gostei muito do seu blog, tou te seguindo se me seguir de volta ficarei feliz :)

    http://blogtatudodominado.blogspot.com/

    Responder
  10. Cabeça Feminina comentou, em 14/07/2011:

    adoreeei o blog e estou seguindo!!

    qnd tiver um tempinho, de uma passadinha no meu?

    bjooos

    http://cabecafeminina.blogspot.com/

    Responder

Deixe uma resposta para Eduardo Ferrari Cancelar resposta