6o. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da ABRAJI: Destaques e o que melhorar

Criado por Letícia Castro em em 07/07/2011

 

De 30 de junho a 2 de julho, aconteceu em São Paulo o 6o. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da ABRAJI, na Universidade Anhembi-Morumbi, com recorde de participação de público (mais de 800 pessoas, entre profissionais – 42,5% – e estudantes – 57.5% - compareceram ao evento).
 
A sexta edição do congresso contou com 125 palestrantes (locais e de outros países) e moderadores, responsáveis por 69 cursos e painéis (veja lista completa aqui). Depois de uma semaninha corrida para colocar a vida em dia (foram três dias de completa imersão), o BABEL.com vem contar para vocês o que rolou de melhor e pior este ano.
 
 
Pontos altos:
 
As palestras que pude assistir foram escolhidas com base no trabalho que desempenho na internet e como assessora de comunicação. Nesse nicho, o destaque fica por conta da apresentação Em tempo real: o desafio de garantir a qualidade da informação na velocidade da internet“, de Luciano Suassuna (diretor de Jornalismo do Portal iG) e Márcia Menezes (editora-chefe e uma das responsáveis pela criação do portal G1) – o Babel fez um registro em vídeo que merecerá um post à parte.
 
 
 
 
Os palestrantes pontuaram, entre outras coisas, que o jornalismo online não perde para o impresso em qualidade e ainda ganha desse veículo no que diz respeito à agilidade na transmissão das notícias. Segundo Suassuna, “Em função da velocidade, quem tem um problema de qualidade hoje é o impresso e não o online.” Com exemplos que tentaram comprovar a superioridade da cobertura jornalística na web, Luciano lembrou fatos recentes como o terremoto do Japão e o massacre na escola de Realengo, no Rio, que tinham seus dados atualizados no decorrer do dia.
 
Na mesma linha, Márcia Menezes reforçou que a questão da apuração e da publicação de fatos reais não é deixada de lado no jornalismo online. “Eu pressiono a redação porque é o meu papel, mas, ao mesmo tempo, digo, ‘só publiquem quando vocês tiverem certeza’”, pontuou.
 
 
 
 
Uma grata surpresa foi ver que o jornalismo independente esteve muito bem representado nesta edição do Congresso da ABRAJI. Em 2010, senti falta de profissionais do lado empreendedor da área, uma tendência muito em voga hoje e da qual faço parte. Na mesa “Jornalismo independente on-line”, Joshua Benton (diretor do Nieman Jornalism Lab, da Universidade de Harvard), Brant Houston (professor da Universidade de Illinois nos EUA) e Natália Viana (jornalista independente da Pública e parceira do WikiLeaks no Brasil) vieram confirmar que é possível ter a sua própria empresa de jornalismo na internet e ainda viver dela. Testemunho próprio, estou neste ramo, quase desconhecido no Brasil, há três anos e faço eco ao depoimento dos palestrantes.
 
Outra apresentação memorável foi a que presenciamos no duelo entre os grandes Ricardo Boechat (âncora da BandNews FM e do Jornal da Band) e Heródoto Barbeiro (ex TV Cultura e CBN, atual âncora na Record News), cujo tema foi “Rádio e TV: como aproveitar o melhor dos dois veículos“. A discussão, que enveredou para os desafios da transmissão jornalística no rádio e na internet, fez com que os protagonistas levantassem suas respectivas bandeiras a favor dos meios que representavam. Boechat, escrachado como sempre, defendia que, por questões de portabilidade, nenhum outro veículo é tão acessível aos brasileiros como o rádio, tese que Barbeiro refutou imediatamente, lembrando que a maioria dos aparelhos celulares dispõe do dispositivo e que ouvir rádio pela internet também já é uma prática bastante difundida entre a população. Uma boa briga de titãs.
 
 
Diferentemente do Congresso de 2010, este ano alguns dos principais veículos de comunicação trouxeram seus stands para a Anhembi-Morumbi. Entre eles, dois destaques: o Estadão, que disponibilizou três tótens com iPads e conexão gratuita para uso do público em geral, e a Band que trouxe a empresa Eventos com Arte, para fazer caricaturas em caneca dos participantes. Desnecessário dizer que o stand da Band virou ponto de sociabilização entre os congressistas (além das balas, aperitivos e telões com a programação televisiva). E é com esse gancho que abrimos a parte não tão glamourosa assim desta sexta edição do Congresso da ABRAJI.
 
 
Pontos fracos:
 
Começando, então, pelas instalações, a Anhembi-Morumbi deixou os participantes do congresso na mão, ou melhor dizendo, de laptop na mão. Tiraram todas as mesas do espaço de convívio social, em frente a lanchonete da universidade. Esta, não ofereceu refeição e, quem quisesse almoçar, de modo mais digno que apenas comer um salgado, tinha que deixar o recinto, o que gerou bastante desconforto entre os visitantes de dentro e fora de São Paulo.
 
Também bloquearam as tomadas e recarregar notebooks e celulares foi um drama. Em algumas classes, as tomadas não funcionavam e a rede wi-fi caía a todo instante. Para um congresso de jornalismo, esta parte foi bem caótica, dizendo o menos. A falta de um espaço em comum também dificultou demais o networking, que, no meu caso, é o motivo principal de ter desembolsado R$ 400,00 para ir ao evento. No ano passado, distribuí bem mais cartões de visitas e o retorno pós-congresso foi de grande utilidade.
 
A localização é uma vedete à parte. Pergunto-me até hoje, sem obter resposta que convença, por que (por que, meu Deus???) este congresso é realizado na Anhembi-Morumbi da Vila Olímpia? São Paulo é mundialmente conhecida pelo problema crônico de trânsito, por que fazer um congresso dessa escala em um lugar que só é acessível de carro e de ônibus? Se há algum tipo de convênio (acordo, conchavo) com a universidade, por que não utilizar o campus da Paulista, a alguns passos do metrô, no meio da maior concentração de hotéis da cidade?
 
Fui testemunha e “flanelinha/ciccerone” dos amigos de fora, todos meio perdidos em relação a como ir e voltar do congresso. O acesso é difícil, estacionar é um desafio e não há boa infra-estrutura ao redor (comer em uma padaria de bairro não é bem a melhor opção e os hotéis próximos são caros). Desisti de perguntar, mas fica registrada minha total indignação.
 
Quanto aos palestrantes, achei que a ABRAJI poderia diversificar o naipe um pouco. Se bem a apresentação do Suassuna tenha sido diferente da que ele deu no ano passado, poderia ter sido aberta uma porta para outro profissional de igual relevância. O mesmo pode se dizer de Josias de Souza e, aliás, falemos de Josias de Souza, ponto de destaque máximo entre os OUTs deste congresso.
 
 
 
 
Tenho uma relação de respeito por Josias de Souza. E só. Discordo da decisão da Folha de colocá-lo como blogueiro e seu desempenho forçado fica aparente quando ele está à paisana. Josias, pelo visto, tem implicâncias (palavras dele) demais com a internet para trabalhar no meio. Ele mesmo acabou se retratando, quando disse, no meio da palestra, que só estava falando dos pontos negativos, etc. Pontos negativos? Decida por você mesmo, leitor, depois de ler as “pérolas do Josias” que fiz questão de publicar no meu Twitter em tempo real:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perceberam que houve uma tentativa (de muito boa vontade) de minha parte de continuar na palestra? Mas, entre a ausência do Ricardo Noblat (outra mancada colossal!), previsto para a mesma mesa, a repercussão da morte do ex-presidente Itamar Franco, e continuar ouvindo o Josias, escolhi a segunda opção. Confesso que saí da sala bastante atordoada, mas não perdi a oportunidade de denunciar as atrocidades verbais do ilustre companheiro durante a apresentação de Luciano e Márcia.
 
 
 
Desabafo feito, o que fica, de modo geral, é a certeza de que o evento anual promovido pela ABRAJI faz parte do calendário obrigatório de qualquer jornalista. Ainda que o tema, por sua própria natureza, seja “Jornalismo Investigativo”, o Congresso estende a sua agenda para tópicos mais abrangentes, que dizem respeito ao fazer diário da profissão. Se houve algo que senti muito ter perdido foi a homenagem ao (este sim) ilustre colega de profissão, o jornalista Rosental Calmon Alves, exemplo de profissional, que agora dirige (além de também ter fundado) o Centro Knight para Jornalismo nas Américas. Rosental, para se ter uma ideia, foi responsável pela criação, ainda em 95, do Jornal do Brasil online (onde era editor-executivo e membro do Conselho de Diretores), quando a publicação viu o ocaso de seus dias como impresso e, teve que migrar para a nova plataforma para sobreviver.
 
 
 
 
Mas, o melhor de tudo foi ter tido o prazer imenso de passar por essa experiência tão gratificante ao lado dos meus amigos Wander Veroni, Elisandra Amâncio e, a mais nova entre os mineiros, Flávya Pereira. Já nem me lembro de quem é “a nossa foto oficial” acima, mas a verdade é que passamos por tantas emoções maravilhosas, diferentes e edificantes durante estes dias que tenho certeza de termos saído tocados para o resto de nossas vidas. Espero tão somente poder desfrutar com vocês da mesma aventura no ano que vem, onde quer que seja o Congresso da ABRAJI.
 
 
Imagens: Letícia Castro e Wander Veroni (foto final)
 
 
 

 

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Comentários (4)
  1. Wander Veroni comentou, em 07/07/2011:

    Oi Lê!

    Sou suspeito pq adorei passar essa temporada em SP com vc e, nos dias que aconteceram o Congresso, com a cia das amigas Elis e Flávia. Foram momentos especiais, divertidos e edificantes, como vc bem disse.

    Ano que vem tem mais…hehehe…eu não assisti a palestra do Josias, mas fiquei revoltado de ouvir (e ler) o seu relato sobre como ele vê o jornalismo online. Esse lance das tomadas e a falta do espaço de convivência comum foi uma gafe mesmo, né! Mas, para compensar, teve a excelente palestra do Heródoto e Boechat.

    Eu adorei a mesa comandada pela Natália Viana, da Pública. Foi um bom exemplo de jornalismo empreendedor, da qual fazemos parte e levantamos a bandeira diariamente. Também fiz um post sobre o Congresso deste ano, depois passa lá e deixa um comment…hehehe.

    Parabéns pelo post, cumade!

    Beijos ;)

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  2. LETÍCIA CASTRO comentou, em 07/07/2011:

    Oi, compadre!

    Ah foram dias ótimos mesmo, fizemos tanta coisa que fiquei até zureta e tendo que trabalhar ainda, porque eu não estava de férias. Na verdade, nunca estou, enfim… Coisas de jornalista online. rs

    Foi revoltante mesmo, mas adorei o piti dele, notícia pura! hehehe

    Ah tá, vou passar lá tb, pode deixar.

    Beijones!

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  3. Michele Souza comentou, em 12/07/2011:

    Oi Lê!!!!
    Muito ruim a falta de estrutura né?
    Fazer um evento grande é necessário estrutura, os organizadores deveriam pensar nisso antes..
    Agora é muito bom falarmos da área que atuamos, trocar informações e conhecer e rever as pessoas é muito gratificante.
    Muito bem.
    beijão
    Mi

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  4. LETÍCIA CASTRO comentou, em 12/07/2011:

    Miiiii! Adorei seu comment, linda!!!

    Pois é, não sei por que deram essas mancadas este ano. Em 2010, apesar da má localização, fomos muito bem recebidos, até porque é um evento não muito em conta, né? É o mínimo que se espera.

    Ô se é, a gente precisa dessa reciclagem constante, com certeza.

    Muitas beijocas procê!

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