Copa do Mundo: no Itaquerão, os gringos somos nós

Criado por Letícia Castro em em 27/06/2014

babel jogo da copa 1

Por Ana Alice Vercesi

- Não é possível. Isso aqui não é no Brasil.

Não fosse pelos esporádicos gritos de “Vai Curíntia”, eu custava a acreditar que aquela visão era a Arena São Paulo, a.Ka. Itaquerão, a.k.a. Arena Corinthians.  Prestes a assistir ao sofrido Bélgica 1 x 0 Coreia do Sul, ainda estava surpresa com a facilidade na chegada ao estádio (conforme relatado aqui no primeiro Dia de Copa pela Leticia), desde a orientação por todo o trajeto (que incluiu o bloqueio da radial para a passagem dos torcedores) até a rapidez na revista e na entrada. E, então, fui surpreendida pela impressionante visão do campo e das arquibancadas.

Não que eu me considere uma completa leiga em estádios. San Siro, Allianz Arena, Santiago Barnabéu, Camp Nou e até o Citi Field, casa do time de baseball New York Mets, já passaram por esses olhos que a terra há de comer – um feito e tanto para quem, há cinco anos, não sabia a diferença entre escanteio e tiro de meta. A Arena São Paulo certamente não é a mais bonita, ainda não tem história ou Babel jogo da copa 2tradição e, embora tenha destino mais certo do que outros elefantes brancos espalhados pelo país, resta saber que rumo será dado exatamente ao seu espaço. Mas some à primeira ótima impressão as músicas internacionais, as indicações em inglês (ou nem tanto) dos funcionários  e um número incontável de línguas que os torcedores misturavam ao passar e a sensação era de que a estação Artun Alvin possuía uma passagem secreta, uma espécie de estação 9 ½  da série Harry Potter.

Marvin Gaye com samba

Para completar a experiência, chegamos dispostos a torcer pela Bélgica mas, enquanto uma mistura de “Sexual Healing” (Marvin Gaye) com uma base de samba-canção ecoava nas caixas de som, um simpático torcedor coreano, munido de várias camisetas da Coreia, distribuía o brinde nos arredores de sua cadeira para que todo mundo virasse a casaca. Como em um das mais rasas táticas eleitoreiras, o feito deu certo.

babel jogo da copa 3Não que torcer pela Coreia fosse algo simples: os gritos de guerra eram difíceis de ser seguidos e as palmas travavam uma luta com os ritmos aos quais os brasileiros já estavam acostumados. O único momento de sinergia acontecia quando eles entoavam “As Quatros Estações”, de Vivaldi – cada um tem o “Seven Nation Army” que lhe apetece.

Gringos em Itaquera

Com uma malícia mínima (tipo sair uns 2 minutos antes do intervalo), foi fácil chegar aos banheiros e as muitas barracas de comida disponíveis davam opção para quem quisesse pegar a menor fila. Nosso lugar era um dos menos favorecidos (atrás do gol, lá em cima) e, ainda assim, era possível acompanhar bem o jogo, inclusive à noite. Mas, antes mesmo de deixar o Itaquerão,  como se estivesse em outro país, me perguntava o que levaríamos nós, brasileiros, de toda essa experiência.

Vamos ter esquemas especiais em dias de jogo, como o bloqueio das vias para passagem de pedestre? Teremos a rapidez nas revistas e coleta de ingressos?  Haverá limpeza e organização nos banheiros e na orientação das arquibancadas? E, por fim: as crianças e o restante dos moradores locais, que ficaram de fora do cordão de isolamento que nos levava diretamente ao estádio, gritando nas ruas por um copo ou um ingresso usado para levar de recordação da Copa, estarão ali dentro ou continuarão vendo tudo de fora, como se ainda fôssemos todos gringos em plena Zona Leste?

babel jogo da copa 4

Escreva um comentário