Besouro, o filme retrata com competência a saga do herói nacional e sua negritude

Criado por Letícia Castro em em 21/11/2009

 

Qualquer semelhança com O Tigre e o Dragão não é mera coincidência para quem assiste Besouro, o filme. As cenas em que o personagem central voa, em meio a golpes flutuantes de capoeira, são obra encomendada ao coreógrafo chinês, Huen Chiu Ku, o mesmo que imortalizou o baile marcial aéreo da famosa produção. Com um orçamento estimado em R$ 10 mi, Besouro é de longe o filme nacional mais caro do ano, sem investimento em um elenco de peso.

Trailer oficial do filme

 

A direção de arte, de Cláudio Amaral Peixoto (Cazuza e Lisbela e o Prisioneiro) e a direção geral de João Daniel Tikhomiroff (renomado diretor publicitário que acumula nada menos que 41 Leões de Ouro em Cannes) se encarregam pela estética primorosa da obra. Besouro é um capricho desde a ambientação à precisão da atuação do elenco, à orquestração dos golpes de capoeira e ao enaltecimento dos orixás que embelezam o enredo. A cultura afro-brasileira, ainda que relatada dentro dos seus períodos mais amargos, é retratada com verossimilhança e coerência, muito além do realismo fantástico. E a música-tema de Gilberto Gil arrepia os sentidos no momento certo. O filme conta a vida do personagem real de forma pictórica e deve se transformar em um cult daqui a não muito tempo. O que incomoda é que o grande público não encha as salas dos cinemas por todo o país e não prestigie uma produção que fala dele mesmo com tanta arte. O grupo seleto que se permite assistir Besouro sai encantado, no entanto.


Besouro (Aílton Carmo) e o Coronel Venâncio (Flávio Rocha) no duelo final

 

Besouro conta a história de Manoel Henrique Pereira (1895-1924), ou Besouro Mangangá, como ficou conhecido pela lenda, muito após a sua morte. Exímio capoeirista, Besouro era uma espécie de justiceiro da raça, tomando as dores da comunidade negra que vivia no Recôncavo Baiano, durante as primeiras décadas do século 20. Os ex-escravos, mesmo quase 20 anos depois da abolição, continuavam sem emprego e exerciam praticamente as mesmas atividades que na época da escravatura, sob as mesmas condições de maus tratos e desmandos. Tendo crescido nessa realidade, Manoel se rebelou e ficou famoso pelos enfrentamentos com os patrões e por vingar os demais companheiros quando estes não podiam levantar a própria voz. Com vigorosos golpes de capoeira, Besouro partia para o confronto e suas numerosas façanhas fazem com ele seja cantado até hoje nas rodas por todo o país. A fama e o nome (Mangangá é a denominação de um tipo de besouro cuja ferroada produz uma dor insuportável) vieram principalmente das fugas-relâmpago, geralmente de modo fantástico, que faziam crer que o capoeirista se evadisse voando.


O forte Exu (Sérgio Laurentino) e a brava Iansã (Jéssica Barbosa): influências decisivas na vida do guerreiro

As controvérsias em torno de sua vida e morte são muitas e cheias de imprecisão. Dizem que foi esfaqueado em uma emboscada preparada pelo filho de um fazendeiro que, ao feri-lo com um golpe de faca de tucum, acabou com a crença de que teria o “corpo fechado” pelos orixás. A maneira como os orixás (divindades cultuadas em religiões afro-descendentes, como o candomblé) são retratados é um capítulo à parte. Com muita beleza e suavidade, a história dos deuses negros, guardiões dos elementos da natureza, é explicada cada vez que se fazem presentes na trama, sem tom pejorativo ou supersticioso. Cada um deles justificando o enredo e sua influência na vida de Besouro, amarrando o seu destino até o momento final e no pós-vida. O ponto forte do filme, no entanto, fica por conta mesmo da exaltação à arte da capoeira, prática proibida à época, hoje reconhecida como patrimônio cultural brasileiro. Besouro foi o primeiro grande expoente do popular jogo, trazido junto com os escravos da África e tão notoriamente associado com o Brasil, e foi a partir de sua influência que a atividade começou a ganhar respeito e liberdade para ser praticada em território nacional.

Besouro está em cartaz desde 30 de outubro, nos principais cinemas do país e o filme apostou na interatividade. Além do site, a produção conta com um blog e foram realizadas duas promoções, com concurso cultural e mostra de capoeira, onde os participantes podiam enviar seus vídeos para concorrer através dos números de visualizações no YouTube. Aliás, a produção tem o seu próprio canal no site, além de comunidade no Orkut e grupo no Facebook. Você ainda pode seguir as notícias relacionadas no Twitter. Portanto, após conferir o filme nos cinemas, não deixe de interagir e participar online da repercussão.

Fotos: Divulgação

Aqui se fala português.

Comentários (20)
  1. Rodrigo The Rock comentou, em 22/11/2009:

    Queria ver o Besouro sair no tapa com o Chuck Norris.

    Letícia, já estou te seguindo e como vc gosta de música, dá uma olhada no meu blog e se gostar me segue tá?

    http://rodzonline.blogspot.com/

    Bj
    Rodrigo

    Responder
  2. SAULO PRADO comentou, em 22/11/2009:

    Estou Louco de vontade de ver este ; como aqui na minha cidade o cinema virou igreja evangélica! Vou ter que esperar chegar nas locadoras…

    E viva o cinema nacional!!! Vamos valorizar o que é nosso, só assim, ajudaremos no aperfeiçoamento do nosso cinema.

    Ps: Nada contra as igrejas evangélicas…

    Responder
  3. gAng comentou, em 22/11/2009:

    esse eh um dos melhores do ano
    axo q sohperde pra 2012^^

    http://www.hysteria-project.blogspot.com

    Responder
  4. Tatiane Rosa comentou, em 22/11/2009:

    Fui ontem ao cinema mais naumm consegui ver pq os filmes 2012 e lua nova estavam esgotados aí o povo q tava lá acabou vendo besouro com o q fez que se esgotasse tbm :S

    Responder
  5. Nova Quahog comentou, em 22/11/2009:

    eu topo ver!

    Responder
  6. Rodrigo The Rock comentou, em 22/11/2009:

    Eu vi o 2012 ontem mas ainda verei Besouro

    Responder
  7. Ana Paula Moreira comentou, em 22/11/2009:

    Pelo o que vc escreveu o filme parece ser muito bom. O cinema nacional está cada dia melhor. Com produções de primeira. Vou ver depois.
    Abraços

    Responder
  8. Neurônios Escassos comentou, em 22/11/2009:

    muito bom o post! fiz uma referencia dele no meu blog, com destaque para a sua autoria, claro.

    http://www.neuroniosescassos.blogspot.com

    Responder
  9. Jorge Fortunato comentou, em 22/11/2009:

    Oi Lê´
    Tudo bem com você? Acabo de ler seus maravilhosos comments e já respondi. Tava com saudades, mas sei que vc é uma guerreira na luta diária… Um beijo enorme, e pode contar comigo, como guia turístico.
    Aliás, ontem, fiz um passeio muito legal. Devo postar até terça.
    Beijão
    Jorge

    Responder
  10. Renan Barreto comentou, em 23/11/2009:

    Caraca, eu to doido pra ver esse filme, Letícia!!! Não sabia que era o mesmo coreógrafo do Tigre e o Dragão. Me deu mais vontade de ver ainda. Bem, to trabalhando muito. Tem sido dificil visitar meus amigos de blogs rs Mas saiba que adoro o Babel!!! Ah! E que bom que vc gosta das poesias do meu blog. Eu sou meio alucinado mesmo uhauhhau Bjão!!!!

    Responder
  11. Suzi comentou, em 23/11/2009:

    Adoraria ver esse filme ^^

    Responder
  12. Anonymous comentou, em 23/11/2009:

    Eu adoraria ver ^^

    Responder
  13. Wander Veroni comentou, em 24/11/2009:

    Oi Lê!

    Confesso que estou doido pra ver esse filme, ainda mais pela história em si que é muito rica e valoriza a cultura afro. Adorei a sua crítica e as informações que você levantou a respeito da película \0/. Assim que assistir volto aqui para comentar contigo, ok!

    Beijos :D

    Responder
    • emanuelly luane urbiche comentou, em 29/10/2013:

      esse filme é muito legal fala sobre a cultura afro e fala tbm sobre exu muito bommm!!!!!

      Responder
  14. Anonymous comentou, em 27/11/2009:

    Filme horrível, as cenas de luta com muito efeito de zoom e câmera lenta, digna de filmes americanos década de 80, a qualidade do roteiro ficou como se alguém estivesse com a mãe na forca e assim o fez nas coxas, MAS investiu na propaganda, afinal a curiosidade vai dar lucro e não o filme em si. Se esperam a qualidade de cidade de Deus, esqueça! Lembrei faltou no filme mussum, didi, dedé e zacarias….

    Responder
  15. Edu comentou, em 27/11/2009:

    Filme fraco,porem é um importante passo para os filmes de açao no brasil.Alguem citou 2012 como o melhor filme do ano…pqp…

    Responder
  16. Viviane Righi comentou, em 04/12/2009:

    Oi, Lelê…
    Eu já tinha visto uma chamada desse filme por aí e fiquei louca pra assistir. Mesmo com os comentários aí no blog de pessoas que não curtiram o filme, ainda assim irei conferir, pois mesmo se os efeitos não forem lá essas maravilhas como falaram, fiquei curiosa com a história.

    Wander e Tico, vamos combinar de assistir juntos? O Beto estará de folga esse final de semana… Lelê, se eles aceitarem, não fique chateada, rs…. Em janeiro ou fevereiro poderemos repetir o programa, viu, comadre? :)

    Bjos cheios de carinho pra vc,

    Vivi

    Responder
  17. Fábio comentou, em 21/12/2009:

    Ola tudo legal? Olha eu tambem tenho um blog, qdo e c der faz uma visitinha..WWW.ECOSDOTELECOTECO.BLOGSPOT.COM . Sucesso aí com a proposta e abração!

    Responder
  18. clubedoalgodao comentou, em 14/01/2010:

    Grande post,seu texto realmente da vontade de ver o filme.Ê um engano pensar que esse tipo de filme não vende, o que falta é divulgação, eu nem havia ouvido falar dele até ler este post, como imagino, muitos outros. Se a obra for boa como o comentado por vc logo o publico acaba se interessando.

    Responder
  19. winx comentou, em 02/05/2013:

    Um filme de bom agrado,um filme que ensina bem as artes da Capoeira.Adorei ter assitido esse filme :)

    Responder

Deixe uma resposta para Rodrigo The Rock Cancelar resposta