Contemplação

Criado por Letícia Castro em em 14/08/2011
Estava lendo um poema chamado “As mãos do meu pai“, de um dos poetas favoritos de todas as pessoas, o genial Mário Quintana, e descobri que conheço de cor as mãos do meu pai. E não só as mãos como os pés, as pernas, a barriguinha, o peito, os braços, a cabeça e o cabelo, que o tempo foi tingindo naturalmente. Houve uma época também, bastante longa, em que ele tinha bigode e chegou a ter uma barba muito bonita. Mas, até este exato momento, nunca tinha me dado conta do estado de contemplação que sempre tive com meu pai.


Por alguma razão desconhecida, sempre passei longos momentos olhando para o meu pai, em silêncio. Não sei se ele já percebeu isso, já que nem ao menos eu o sabia. Principalmente quando ele está comendo (porque ele come com uma boca…) ou quando ele está sentado no quintal, com a sua toalhinha de rosto sempre à mão.


Meu pai é cheio dessas manias. Chupar laranja após as refeições, pentear o cabelo infinitas vezes antes de sair (ou quando vai ao banheiro e acha que o cabelo desalinhou), ter sempre por perto uma toalhinha de rosto e só vestir camisa que tenha bolso. Ele também é fanático por notícias e hoje em dia, tenho perfeita consciência do quanto norteou minha escolha profissional, ainda que nenhum de nós tivéssemos nos dado conta mais uma vez. É que ele tem um amor tão grande pelos noticiários que eu cresci dentro do Jornal Nacional. Todas as noites, estávamos lá, Cid Moreira, meu pai, minha mãe e eu.


Não sei se este é o primeiro Dia dos Pais que passo longe do meu “gordo”… Já liguei para ele e disse o quanto o amo e tenho orgulho de ser sua filha. Mas, fiquei morrendo de vontade de dar um abraço enorme e sentir seu cheirinho de laranja.


Meu pai foi escolhido a dedo por Deus, como prova primeira de Sua existência na minha vida. Ele é o maior, o melhor e mais lindo pai que alguém poderia ter. A única coisa que ele não conseguiu conquistar na vida foi um filho, tadinho (rs). É doutor com PhD em paternidade feminina (6!), o que, para mim, foi uma maravilha, pois ele entende como ninguém do riscado. Meu pai e eu somos tão cúmplices que foi para ele que contei primeiro aquilo que nenhuma filha divide com seu pai, nem depois do casamento. E, pela primeira vez na vida, ele engasgou chupando uma laranja…


A você, leitor, que, por alguma razão que não nos interessa, também está distante do seu pai hoje, seja na geografia ou no coração, peço que supere os obstáculos que os separam e dê um alô para o seu coroa. Ao menos hoje, liga lá. Se o problema for um pouquinho maior que distância, faça de conta que nada aconteceu, e fale com ele do mesmo jeito. Um dos momentos mais felizes da vida dele foi quando você nasceu, portanto, mexa-se.


E, para quem o paizinho já está descansando com o Senhor, vale o mesmo. Eleve o seu pensamento e repita tudo aquilo que vocês costumavam se dizer quando ele estava mais próximo. Abrace-o bem forte de novo, beije a sua careca e diga o quanto você o ama e é grato por cada momento que compartilharam juntos. Pode ter certeza de que esse amor inunda o Universo.


Hoje, infelizmente, não vou poder ficar que nem coruja, fitando o seu Ronaldo… Mas, pai, eu tô de olho, viu? :)


Feliz Dia dos Pais a todos!
Comentários (10)
  1. Geraldo comentou, em 14/08/2011:

    Olá Leticia,

    Belissimo texto, nada mais a declarar, senão o choro vai correr solto (meu gordo já se foi)

    Abraço

    Responder
  2. LETÍCIA CASTRO comentou, em 14/08/2011:

    Então, deixa o teu choro encontrar o meu, meu amigo, porque esses “gordos” merecem todas nossas lágrimas de felicidade, né?

    Beijão especial para vc e FELIZ DIA DOS PAIS!

    Responder
  3. Claudia Bittencourt Caldas comentou, em 14/08/2011:

    Lêzinha, você é demais querida!
    Estou aqui emocionadíssima com suas palavras…vi o meu gordo e careca (meu pai era literalmente careca!) pela última vez quando tinha dez anos e meus pais separaram-se. Soube que nunca mais o veria, nesta vida, aos meus 15 anos quando soube que ele havia falecido …mal me lembro da sua face, do seu cheiro, só saudades de algumas poucas lembranças de infância.
    Lê o melhor a fazermos na vida é aproveitarmos bem os pequenos momentos, porque algum dia iremos descobrir que eles foram grandes!
    Beijocas pra bonequinha!

    Responder
  4. Ana Lucia Nicolau comentou, em 14/08/2011:

    Oi Letícia, tudo bem? estava com saudade de visitar seu blog.
    Realmente, é muito bom quando temos o nosso pai para beijar, abraçar, falar palavras bonitas…
    infelizmente meu pai já se foi há quase 10 anos, mas, ele está sempre no meu coração…
    bjs

    Responder
  5. LETÍCIA CASTRO comentou, em 15/08/2011:

    Cláu, minha linda, eu é que me emocionei com a sua história e vc tem toda razão: precisamos aproveitar estes “pequenos” momentos, pois são eles os que vamos levar por toda eternidade.
    Eu tenho certeza de que esse fio dourado da lembrança e do amor que você sente pelo “gordo careca” permitirá que ele esteja sempre ao seu lado. Não tenha dúvidas disso.

    Beijo mega carinhoso pra vc, viu?

    Responder
  6. LETÍCIA CASTRO comentou, em 15/08/2011:

    Ana, minha querida, e eu estava com muitas saudades dos seus comentários aqui, viu? Não podemos ficar tão distantes assim, principalmente, morando na mesma cidade, né?

    Eu entendo perfeitamente o que vc disse, porque conheço um pouquinho da sua história com seu pai e sei do exemplo e do orgulho que vc tem dele. Esse é o maior presente, viu querida? Ele será sempre a tua referência e norte. :D

    Beijocona para vc e fique com Deus!

    Responder
  7. Silvia comentou, em 15/08/2011:

    Oi minha filha,

    Poucas vezes nesses quase 40 anos junto a seu pai, eu o vi chorar, hoje foi um desses dias. Texto maravilhoso e todo o amor florescendo em cada palavra escrita. Nos orgulhamos muito de você também. Ele mandou dizer que a ama muito e que também está de olho em você..rsss
    Fique com Deus. AMO VOCÊ!.

    tu mamita

    Silvia

    Responder
  8. LETÍCIA CASTRO comentou, em 15/08/2011:

    Eita… Não dá para falar nada não, mã. Só mandar mais um beijão enorme para os dois e dizer o quanto os amo.

    Muak!

    Responder
  9. Wander Veroni comentou, em 15/08/2011:

    Oi Lê! Confesso que li o seu texto aqui e uma lágrima foi escorrendo do meu rosto. Foi um presente lindo que vc deu ao seu pai. Me emocionei pq sei da sua história e vc sabe da minha com o meu pai. Estou exercitando o perdão em muitas coisa da minha vida e, principalmente, apesar dos pesares, valorizar a família que tenho ao meu lado. Desculpa se o que escrevi está confuso, mas estou muito emocionado para consegui ligar as ideias de uma forma mais coesa…..gosto muito de vc….e gosto de lhe ver postando textos tão bonitos aqui no Babel. Beijos :)

    Responder
  10. LETÍCIA CASTRO comentou, em 15/08/2011:

    Que bom que vc se emocionou, Wander!

    Obrigada pelo comentário,

    Bjs.

    Responder

Escreva um comentário