As redes sociais e a glamourização do outro

Criado por Letícia Castro em em 01/05/2011

É da condição humana se deixar seduzir pelo que está distante. A idealização do objeto quase desconhecido, pelo qual se tem alguma admiração, faz parte das relações entre os homens desde que o mundo é mundo. Há um ditado em inglês que afirma que a grama é mais verde do outro lado da cerca e no meio social da web 2.0, a glamourização do invidíviduo fica ainda mais potencializada.

Quando iniciamos um contato online, que passa a ser frequente e com o qual travamos uma relação de sociabilização, é natural buscarmos dentro dos recursos que a própria internet oferece por mais dados acerca do “amigo” virtual. Virtual, como diz o próprio nome, refere-se a tudo aquilo que ainda não “tocamos”, é o que vem pelo éter e pertence ao terreno abstrato, em oposição ao tangível, concreto e real, e está oculto à percepção dos demais sentidos, em seu alcance integral.

Tudo na internet pode ser criado, inventado, desenvolvido com um propósito e delineamentos quase nunca espontâneos e naturais. Os perfis dos usuários de redes sociais escondem, camuflam e propõem uma realidade de faz-de-contas aos olhos e mentes de quem os acessa, os quais tem a sua capacidade de interpretação e julgamento deturpada pelo direcionamento mesmo das informações oferecidas. Essa pessoa com quem converso todos os dias pelo computador é realmente assim? Tem esta aparência, gostos, atividades, desenvolvimento profissional e até mesmo nível de instrução? Quem garante? O que me comprova, de modo real, que o príncipe e a princesa não passam de sapos asquerosos? Onde, dentro do universo online, há um atestado de bons antecedentes que proteja cada um dos internautas de levar para a sua “vida de verdade” alguém com quem, do contrário, jamais estabeleceria qualquer tipo de relacionamento?

Não há respostas para o questionamento recorrente e que, ao mesmo tempo, parece se desvanecer quando nos encantamos com alguém pela internet. E, se temos a falta de sorte de topar com indivíduos que justamente usam do meio para “aprontar das suas”, aí é que ficamos (perigosamente) ainda mais vulneráveis as suas artimanhas.

Se você pensa que é através dos elementos visuais e do texto disseminados pelo perfil de um usuário que poderá conhecê-lo, o erro fatalmente o conduzirá a enganos desastrosos. Aquele ser que parece “a pessoa mais doce do mundo”, com frases extremamente simpáticas ou fotos que supostamente atestam em favor de uma vida social de apelos irresistíveis (paisagens de lugares atraentes, centenas de amigos, mesa de trabalho de um escritório chiquérrimo, etc.), pode não passar de uma “persona online”, um personagem inventado a dedo que esconde uma realidade bem menos glamourosa. E aí, a coisa se espalha por si só. Os eventuais adornos agregados a essa “biografia” ficam por conta do outro que a acessa e é levado a tirar as conclusões o menos verossímeis possível.

Quer dizer que todo ser virtual já vem mal-intencionado e só pensa em defraudar o outro? A resposta negativa é óbvia. No entanto, o que nunca levamos em consideração é que, por mais que uma pessoa o fascine por causa de seu comportamento online, o que você vê, o que você literalmente acessa, trata apenas de um recorte da sua realidade. Mesmo na “vida real”, com contato e frequência constantes, quanto conhecemos de quem nos rodeia? Quanto tempo é preciso para estabelecer de fato uma amizade que nos dê a permissão de fazer parte da rotina deste indivíduo? E quando a primeira conexão se estabelece online? Será que não pulamos etapas fundamentais para o bom convívio e já não abrimos as portas de nossas casas e corações de modo precipitado a completos estranhos? Há casos em que nem ao menos sabemos o nome verdadeiro da pessoa antes de “cair” por ela. O fato é que nenhum ser humano está imune à sedução das palavras. Mas, é um padrão incontornável? Não é possível evitá-lo?

Algumas medidas concretas podem ajudar a atenuar os efeitos da glamourização do outro em redes sociais. Se você tem por hábito interagir em meios online e até mesmo começar relacionamentos de qualquer ordem usando a internet, é preciso lançar mão de alguns cuidados. E note que as “dicas” a seguir, originadas apenas na observação e na experiência, não podem sequer garantir a eficácia a que se propõem. No entanto, podem fazer com que você fique mais alerta em relação à evolução do caso. Veja abaixo e sinta-se à vontade para contribuir com mais ideias a respeito nos comentários:

. Nunca revele seu paradeiro real aos contatos online. Se você não trabalha remotamente, e não precisa que pessoas que nunca viu tenham conhecimento de onde mora, etc., não revele onde se encontra de modo preciso. Utilizar serviços como o Foursquare, de modo frequente, por exemplo, facilita a criação de um mapa que rastreia os seus passos em cada momento do dia. Já parou para pensar para quais fins estas informações podem servir?

. Se tem a intenção de levar mais a fundo um relacionamento iniciado na internet, marque um encontro físico com a pessoa antes de mais nada. E em local neutro. Jamais leve um estranho para a sua casa ou para o lugar onde se encontra a sua família.

. Se quiser conversar com a pessoa por outro meio que não seja a rede, use sempre o celular. O número do seu telefone fixo pode expor outros dados, como o seu endereço, em catálogos telefônicos online.

. Não confie cegamente. Coisas ruins acontecem a todo o mundo todos os dias. Ninguém está protegido contra situações desagradáveis e até mesmo, muito perigosas, na vida. Fique com o pé atrás.

. Se a “luz vermelha” acendeu e, por alguma razão, ainda que desconhecida, você sentiu que deve ter cuidado com um contato online, o melhor é cortar a relação de uma vez. Neste caso, seguir a intuição é prudente e evita danos futuros.

. Converse, converse e converse antes de um encontro em pessoa. Se há contradições, elas aparecerão, e quando apareçam, não passe por cima delas, acreditando estar sendo injusto com a pessoa. Todo cuidado é pouco e lembre-se, hoje em dia, qualquer um pode estar incluído no ambiente digital.

. Pergunte-se: se esta pessoa morasse ao lado da minha casa, seriamos amigos? É alguém que tem o perfil de quem costumo me relacionar? Se as diferenças são notáveis, para que insistir na receita que não dá certo? Este é um questionamento indispensável.

. As atividades online do seu contato também revelam muito sobre ele / ela. Por que essa pessoa fica o dia inteiro na internet? Trabalha no computador? Estuda, tem alguma atividade profissional definida ou é um desocupado funcional?

A esta altura você pode estar pensando que tudo isso não passa de paranoia. E, principalmente, se a sua experiência com os chamados “amigos virtuais” sempre tiver sido positiva. Por outro lado, notícias de crimes com origem na internet pipocam pelos noticiários diariamente e, se “onde há fumaça, há fogo”, por que não ser um pouco cauteloso? Não se trata de excluir pessoas do seu círculo social, nem sequer de construir um muro entre vocês. Se estiver alerta e previdente, chances há que nada disso ocorra ao longo de toda a sua existência, online ou não. No entanto, ter cuidado também faz parte da condição humana. Afinal de contas, nunca se sabe o que o espera do outro lado da tela.

Imagens: Meu Divã, Shark, Playweb Design

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Comentários (20)
  1. Claudia Bittencourt Caldas comentou, em 01/05/2011:

    Lê, alguns dos meus contatos virtuais tornaram-se reais e transformaram-se em belas amizades. É lógico que isso não é uma regra e este texto descreve bem o cuidado que todos devemos ter. Bjcas

    Responder
  2. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/05/2011:

    É verdade, Clau. Tb tive experiências maravilhosas e algumas, bem menos.

    Beijoconas pra vc!

    Responder
  3. Max Martins comentou, em 01/05/2011:

    Oi, Letícia!

    Muito bom esse texto!
    É certo que muita gente ainda não se dá conta dessa situação. Quando vai ver, já se tornou vítima. Não falo somente de crimes, falo também de envolvimento emocional.

    Todo cuidado é pouco na web. No momento, não vem nada à mente que eu pudesse acrescentar como dica de cuidado online. Porém, no post já estão listadas as principais.

    Bjs

    Responder
  4. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/05/2011:

    Oi, Max querido. Pois é, é por isso que temos que estar sempre abordando este tema para as pessoas se ligarem, né?

    Bjs e obrigada!

    Responder
  5. Lígia Gally comentou, em 01/05/2011:

    Acho esse negocio de Forsquare uma roubada. Nao somos celebridades e qualquer pessoa tao interesseda assim em onde estamos, nao pode ser por ser por interesses ou objetivos beneficos.

    Responder
  6. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/05/2011:

    Eu tb, Lili, apoio total. Beijoconas, linda!

    Responder
  7. Geraldo comentou, em 01/05/2011:

    Olá Leticia,

    meu principio básico é, aquilo que está nas redes sociais é apenas o necessário sobre mim.

    O resto das informações é privilégio de (poucos) amigos presenciais…

    Abraço

    Responder
  8. Wander Veroni comentou, em 01/05/2011:

    Oi Lê!

    Conversávamos sobre isso outro dia. Adorei ver que vc achou um tempinho para transformas as ideias em post…hehehe. Os blogs, Twitter, Facebook, Orkut, e outras redes sociais, às vezes, nos faz ter uma ideia muito glamorizada do outro, como se fossem personagens, e não pessoas reais.

    E isso pode ser um perigo, não só pelo lado da segurança como vc bem pontuou, mas pelo lado emocional. Graças a Deus, somos uma experiência positiva de alguns anos de amizade.

    No entanto, nesse meio tempo, também conhecemos outras pessoas que nos desapotaram, assim como na vida real. O mundo virtual, nesse campo emocional, também é real. E toda essa experiência é sempre válida para crescermos e sermos pessoas melhores e, principalmente, mais atentas.

    Confesso que sou suspeito pq adoro o seu texto. E os alertas que você listou são de utilidade pública, parabéns!

    Cumade, escreva sempre mais no Babel. Vc arrasa!!!

    Beijos :)

    Responder
  9. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/05/2011:

    Geraldo, meu amigo, bem faz você e continue assim, sempre alerta.

    Bjs e obrigada pelo comentário!

    Responder
  10. LETÍCIA CASTRO comentou, em 01/05/2011:

    É verdade, compadre. São lições que nos fazem crescermos na tal da vida real, né? Espero mesmo que este artigo ajude às pessoas a saberem como proceder um pouco.

    Ahhh pode deixar, vou fazer isso com mais frequência sim. Estou o tempo todo no meu filhote, mas atualizá-lo sempre anda sendo um desafio. Prometo que vou melhorar. :)

    Beijocas e amei seu comentário, viu?

    Responder
  11. Jaime Guimarães comentou, em 02/05/2011:

    Não há paranoia nessas recomendações, pelo contrário: são necessárias e é preciso que sejam reforçadas, ainda mais nestes tempos em que muitas pessoas buscam pela “fama”(!) através das redes sociais – os chamados “alpinistas das redes”, em que capricham nas fotos, nas descrições e a impressão de felicidade é constante.

    Nos tempos do velho “bate-papo” ( que ainda existem) abordei, na sala de informática da escola, uma aluna que já começava a passar dados pessoais para uma pessoa que acabara de conhecer naquele espaço virtual. Falei para a garota dos riscos que ela corria ao cometer tal ato, da questão “virtual x real”…um papel orientador. Em tempo, ela não continuou o bate-papo.

    Agora imagine os pais dessa garotada que passa um tempão nas lan-houses espalhadas por aí…alguns ainda se preocupam com isso, outros dizem “pelo menos, não tá na rua arranjando confusão”. Complicado…

    Abs!

    Responder
  12. LETÍCIA CASTRO comentou, em 02/05/2011:

    Pois é, Jaime, estão na lan house, arrumando confusão ainda piores, complicado mesmo.

    Você tem toda razão e adorei o termo “alpinista das redes”, pois é bem isso mesmo, uma sensação perene de que tudo vai bem, sem o filtro da realidade, já que ninguém posta notícia ruim de si mesmo nas redes sociais.

    Adorei teu comentário, agora, vamos “nos frequentar”, com certeza. ; )

    Bjs!

    Responder
  13. Viviane Righi comentou, em 02/05/2011:

    inacreditável, Lelê! Que raiva…
    Fiz um super comentário aqui, daqueles tipo testamento, e na hora de enviar deu um erro e perdi tudo! Agora estou correndo, à noite eu volto e refaço tudo, tá?
    Bjo enorme, cheio de saudades!

    Responder
  14. LETÍCIA CASTRO comentou, em 02/05/2011:

    Eba!!! Então, tá bom! Estou te esperando, viu comadre?

    Beijão com saudades!

    Responder
  15. Guria Faceira comentou, em 02/05/2011:

    olá minha rica
    confesso q ja me quebrei da pior forma com pessoas mal intensionadas mas tbm conheci pessoas magavilhosas q num tem preço
    mas claro q assim como no mundim real existem os bons e os maus entaum devemos estar sempre alertas

    bjim minha rica

    Responder
  16. LETÍCIA CASTRO comentou, em 02/05/2011:

    Oi, Guria! Amei seu blog, tão lindo, todo vinho. rs

    E não é? Todos temos uma história pra contar, infeliz e felizmente. rs O importante é viver. ;)

    Beijos, linda e muito obrigada pelo comentário!

    Responder
  17. Amanda Navarro comentou, em 05/07/2011:

    Esta história de que a grama do vizinho é sempre mais verde combina muito com redes sociais. Afinal, quem vai querer mostrar no Facebook que trabalhou o FDS todo, ou que o carro está quebrado na oficina, ou que só choveu naquela viagem que tinha tudo para ser legal?
    Ninguém!!
    As redes sociais são muitas vezes os meios mais faceis para alcançarmos uma realidade que não temos.

    Amei o blog e amei o texto!

    Responder
  18. LETÍCIA CASTRO comentou, em 05/07/2011:

    Querida, sua visita é mais que bem-vinda. Já conheci o Papo de Jornaleiro (amei o nome!) e recomendo! Delícia essas discussões da nossa tããao amada profissão. rs

    Vamos trocando figurinhas, tá bom?

    Beijos!

    Responder
  19. Silvia comentou, em 30/06/2013:

    Lele, excelente e muito pontual, como sempre! Mas, nós duas somos o exemplo de que toda regra pode ter belas exceções. Beijos e parabéns pelo excelente trabalho.

    Responder
    • Letícia Castro comentou, em 30/06/2013:

      Verdade, minha linda! Tivemos muita, muita sorte! Super obrigada e um beijones procê!

      Responder

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